Josias de Souza

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Opinião

Ou Hugo Motta pune agressores de Marina ou passará por frouxo

Ninguém deveria cometer a mesma tolice duas vezes, pois a possibilidade de escolha é incomensuravelmente grande. Mas a Câmara submeteu Marina Silva aos mesmos crimes cometidos no Senado há um mês. Em sessão da Comissão de Agricultura da Câmara, deputados infligiram à ministra do Meio Ambiente ataques machistas, racistas, misóginos e injuriosos.

Há quatro meses, o plenário da Câmara foi convertido num campo de batalha. Num debate sobre a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro, petistas e bolsonaristas convulsionaram a sessão com agressões mútuas que afrontaram o decoro parlamentar. Hugo Motta correu do microfone. Declarou o seguinte:

"Quero dizer a Vossas Excelências que se estão confundindo esse presidente como uma pessoa paciente e serena com um presidente frouxo, vocês ainda não me conhecem. Ou esse plenário se dignifica de estar aqui representando o povo brasileiro, ou nós não merecemos estar aqui. Aqui não é o jardim da infância, ou muito menos um lugar para a espetacularização que denigre a imagem desta Casa. Eu não aceitarei esse tipo de comportamento."

Hugo Motta fez, por assim dizer, um risco no chão, como a sinalizar uma fronteira a partir da qual seria compelido a tomar providências: "Se o parlamentar aqui desrespeitar o colega, a própria Presidência vai acioná-lo no Conselho de Ética e vai fazer cumprir todas as medidas restritivas da Casa."

De duas, uma: ou o presidente da Câmara providencia a punição dos agressores de Marina ou se consolidará como o dirigente "frouxo" que diz não ser. Pior: potencializará a percepção segundo a qual a Casa que dirige converteu-se num valhacouto de covardes indignos da representação popular.

Nenhum ser humano merece o tratamento afrontoso dispensado a Marina. Dona de uma biografia sem pesticidas, a agredida é respeitada no Brasil e no exterior. Os agressores não lhe chegam aos pés. Como se fosse pouco, Marina é deputada federal por São Paulo. Licenciou-se do mandato para exercer as funções de ministra.

Quer dizer: enquadra-se com precisão aos parâmetros fixados por Hugo Motta ao dizer que seria implacável com o desrespeito dos deputados com um "colega". As agressões foram filmadas. As imagens estão à disposição. Se permanecer inerte, o presidente da Câmara merecerá, ele próprio, as sanções que prometeu impor aos transgressores do decoro. Chega de frouxidão com criminosos!

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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