Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Justiça absolve por falta de provas advogado acusado de integrar o PCC
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
A Justiça absolveu o advogado Wellington Luiz Pereira de Alcântara, 42, da acusação de integrar o PCC (Primeiro Comando da Capital). Ele foi preso em 31 de agosto do ano passado e permaneceu quase nove meses recolhido na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau (SP).
Wellington passou a ser investigado pelo delegado Pablo Rodrigo França, da Polícia Civil de Presidente Prudente, após a prisão de Renata Lopes Onofre, mulher do preso Oseias Lima Luiz, acusado de pertencer ao PCC. O telefone celular dela foi apreendido e a perícia mostrou mensagens e diálogos entre ela e o advogado.
Segundo a Polícia Civil, em um dos diálogos, Wellington usou gírias e orientou a mulher a esconder algo em um hotel, que na avaliação policial poderia ser droga ou dinheiro. O advogado também foi acusado de repassar a Renata informações sobre operações policiais na região de Presidente Prudente.
A pedido do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), de Presidente Prudente, órgão ligado ao Ministério Público Estadual, a Justiça autorizou a quebra do sigilo telefônico, telemático e bancário de Wellington.
A equipe de investigadores subordinados ao delegado Pablo Rodrigo França monitorou o advogado durante um ano e quatro meses. Os policiais apuraram que ele havia feito pesquisas na Internet sobre drones, cofres, explosivos, luneta, armas e também tinha realizado consultas sobre as autoridades locais.
Entre os nomes das autoridades pesquisadas estava o do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco de Presidente Prudente, além de juízes e oficiais superiores da Polícia Militar daquela região.
Os policiais civis apuraram ainda que Wellington havia recebido um telegrama de um preso da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, forte reduto da liderança do PCC. O telegrama foi enviado em nome de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, tido como chefe máximo da facção. Mas, na realidade, o remetente era outro prisioneiro, cliente do advogado.
No celular de Wellington foram encontradas mensagens de parentes de presos e de prisioneiros, além de dois bilhetes apreendidos com duas mulheres em dezembro de 2018, na saída da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.
Segundo a Polícia Civil, os bilhetes continham mensagens para assassinar o promotor Lincoln Gakiya e o coordenador dos presídios da Região Oeste do Estado de São Paulo, Roberto Medina.
A situação de Wellington se agravou mais ainda a partir de 16 de junho de 2020, quando um suposto denunciante procurou o agente policial Rodrigo Cordeiro da Silva para dizer que foi integrante do PCC e que o advogado estava crescendo na facção e cobrando dívidas para a organização.
Os investigadores apuraram que Wellington fez curso de teatro e entenderam que ele agiu assim "para ser dissimulado". Também disseram que ele integrou a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Presidente Prudente "para se aproximar de autoridades".
Antes de exercer a advocacia, Wellington trabalhou como chefe do GIR (Grupo de Intervenção Rápida), espécie de tropa de choque da SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária), criada para agir em rebeliões e motins.
A SAP acusou — sem provas- - Wellington de ter usado o cargo no GIR para se aproximar dos líderes do PCC na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, por intermédio do preso Valdeci Francisco da Costa, o CI, condenado pela acusação de ter chefiado a célula "sintonia dos gravatas", o braço jurídico da facção, formado por ao menos 40 advogados.
Em 31 de agosto do ano passado, os policiais civis cumpriram os mandados de prisão e de busca e apreensão nos endereços de Wellington. Na casa dele foram encontrados cinco livros com conteúdos literários sobre o Primeiro Comando da Capital.
As investigações contra Wellington foram mantidas sob segredo de justiça. Porém, os áudios de conversas telefônicas do advogado com parentes de presos foram divulgados, mesmo com o sigilo judicial decretado.
Para a Polícia Civil, as gírias usadas por Wellington; os diálogos com Renata; o telegrama recebido; as pesquisas feitas na Internet sobre cofres, armas e explosivos; as consultas sobre autoridades; o interesse por livros sobre o PCC e as denúncias de uma pessoa — não identificada no processo — não eram coincidências, mas provas de que ele integrava o PCC, o maior grupo criminoso do país.
Na avaliação do juiz João Pedro Bressane de Paula Barbosa, no entanto, a narrativa dos policiais civis que investigaram Wellington, descrita acima, "é hipotética e não serve de suporte para decreto condenatório".
O magistrado concluiu que " as consultas na Internet feitas pelo advogado não provam vínculo a plano criminoso e que o conjunto probatório angariado ao longo da instrução restou insuficiente e nebuloso e que não há subsídios suficientes para comprovar a materialidade delitiva, o que impede a condenação".
O juiz mandou expedir o alvará de soltura em favor de Wellington e também determinou a devolução de todos os pertences dele, com exceção de um simulacro (réplica) de uma pistola automática.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.