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PCC alicia terceirizados para tráfico de drogas no maior aeroporto do país
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Investigações da PF (Polícia Federal) apontam que o PCC (Primeiro Comando da Capital) aliciou funcionários de empresas terceirizadas que prestam serviços em áreas restritas no aeroporto internacional de Guarulhos (SP) para enviar drogas à Europa.
Ao menos 50 funcionários foram investigados, sendo que 14 deles tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça Federal em Guarulhos. A pedido da PF, os bens dos acusados também foram sequestrados.
A quadrilha de narcotraficantes usava falsos passageiros — inclusive mulheres com crianças — para levar malas lotadas com cocaína até o aeroporto. As bagagens eram colocadas em guichês vazios e fotografadas com o uso de telefone celular por funcionários envolvidos no esquema.
As bolsas seguiam pela esteira até a área restrita, onde funcionários aliciados pelo PCC recebiam dos comparsas as fotos com as imagens das malas recheadas com drogas.
Os criminosos se encarregavam de introduzir as bagagens no embarque internacional sem que elas passagem pela fiscalização automática chamada de BHS (Baggage Handling System).
A droga era colocada em aeronaves com destino à Portugal, França e Holanda, na Europa, e também para Johannesburgo, na África do Sul. Policiais europeus fizeram apreensões de malas com drogas procedentes de Guarulhos nos aeroportos de Lisboa e Paris.
Policiais federais apuraram que a situação se repetiu no aeroporto de Guarulhos ao menos 27 vezes durante as investigações.
Lista de apreensões
Nos pedidos feitos à Justiça Federal de prisão preventiva e de buscas nos endereços dos acusados, a PF apresentou a seguinte lista de apreensões:
- Apreensão, no dia 21/10/2019, no Aeroporto de Lisboa, Portugal, de 218 kg de cocaína, oriundos do voo TP84, oriundo do Aeroporto Internacional de Guarulhos, SP.
- Apreensão, no dia 07/11/2019, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, de 60 kg de cocaína.
- Apreensão, no dia 15/11/2019, no Aeroporto de Lisboa, Portugal, de 69 kg de cocaína, oriundos do voo LA 8146, oriundo do Aeroporto Internacional de Guarulhos, SP.
- Apreensão, no dia 25/11/2019, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, de 30 kg de cocaína.
- Apreensão, no dia 30/11/2019, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, de 20 kg de cocaína.
- Apreensão, no dia 12/12/2019, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, de 32 kg de cocaína.
- Apreensão, no dia 09/01/2020, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, de 60 kg de cocaína.
- Apreensão, no dia 18/01/2020, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, de 37 kg de cocaína.
- Apreensão, no dia 08/07/2020, no Aeroporto de Lisboa, Portugal, de 65,75 kg de cocaína, oriundos do voo TP 2554, oriundo do Aeroporto Internacional de Guarulhos, SP.
- Apreensão, no dia 29/08/2020, no Aeroporto de Lisboa, Portugal, de 208,58 kg de cocaína, oriundos do voo LA 8132, oriundo do Aeroporto Internacional de Guarulhos, SP.
Funcionário foi assassinado a tiros
O esquema passou a ser investigado em 9 de janeiro de 2020, quando Arisson Moreira Júnior, 34 anos, funcionário de uma terceirizada estranhou a presença em seu setor de Márcio Roberto Peres, 55, empregado de outra empresa que procurava por duas malas.
Arisson não permitiu que o outro empregado pegasse as bagagens e ameaçou avisar a Polícia Federal. Ambos discutiram. Márcio ficou enraivecido e fez a seguinte ameaça: "você eu já passei para os caras". Depois disso ele foi embora.
Policiais federais foram chamados e abriram as duas malas. Nelas havia 60 kg de cocaína. Quatro dias depois, Arisson foi morto a tiros em Guarulhos, quando voltava do serviço para casa. Márcio acabou preso e acusado de envolvimento no homicídio.
Para a Polícia Civil, Márcio avisou os narcotraficantes que foi Arisson quem o impediu de pegar as malas com as drogas para que ele pudesse introduzi-las em um avião com destino à Europa.
A vítima foi assassinada por três homens ocupando um veículo Ford Ranger roubado e com placas clonadas. Dias antes, Arisson havia encontrado Márcio em um ponto de ônibus e fez uma foto dele com o seu celular. Ele mandou a imagem para amigos e disse que temia por sua integridade.
A Polícia Civil ouviu Márcio e pediu o telefone celular dele para ser periciado. Ele alegou ser inocente e disse que havia perdido o aparelho no dia 10 de janeiro, justamente um dia após a discussão com Arisson.
Cristiniano Silva, advogado de Márcio, afirmou que o cliente é primário, não tem envolvimento com o narcotráfico, não mandou matar Arisson e não sabia que havia drogas nas duas malas no aeroporto. A Polícia Civil, no entanto, apurou que Márcio estava de folga naquele dia.
Propina de R$ 15 mil por mala
Os agentes federais apuraram também que os acusados recebiam R$ 15 mil — dez vezes o valor do salário recebido — por cada mala com drogas introduzida clandestinamente em voos para a Europa.
Segundo a PF, os investigados tinham patrimônio incompatível com o rendimento mensal e adquiriram veículos de luxo e imóveis com o dinheiro proveniente do narcotráfico.
Pelos cálculos da PF, um quilo de cocaína custa US$ 50 mil no mercado europeu. Nos últimos dois anos, agentes federais apreenderam 1,5 tonelada de cocaína no aeroporto internacional de Guarulhos.
Delegados da PF disseram ao UOL que pela quantidade de drogas enviadas à Europa com a ajuda de funcionários terceirizados aliciados no aeroporto e pelo modo violento como Arisson foi assassinado, não há duvidas de que toda a ação era coordenada por integrantes do PCC ainda não identificados.
Ouça também o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Esse e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.
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