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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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PMs usaram armas da corporação para fazer arrastão, diz Polícia Civil

Acima, Marco Guilherme de Lima da Paz Belmudes e João Lucas da Silva Moura (no alto), acusados de cometer arrastão - Polícia Civil/Arte/UOL
Acima, Marco Guilherme de Lima da Paz Belmudes e João Lucas da Silva Moura (no alto), acusados de cometer arrastão Imagem: Polícia Civil/Arte/UOL

Colunista do UOL

23/06/2021 04h00

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Email inválido

A dona de casa Ana Cristina*, 36, ainda não conseguiu recuperar o telefone celular iPhone 6, comprado com dificuldade por R$ 2.500 e roubado de seu filho de 16 anos, no início da manhã do último dia 12, na região do Capão Redondo, zona sul de São Paulo.

O autônomo Cláudio*, 29, também não encontrou a carteira com documentos pessoais e dois cartões bancários roubados no mesmo dia e no mesmo bairro. Ele saía de casa com sua motocicleta quando foi abordado por dois homens armados com pistolas. O aparelho de celular não foi levado porque estava escondido no boné.

Segundo a Polícia Civil, o filho de Ana Cristina, o autônomo Cláudio, o estudante Marcos*, 27, e o amigo Thalison*, 19, foram atacados pelos policiais militares Marco Guilherme de Lima da Paz Belmudes, 25, e João Lucas da Silva Moura, 23.

Lotados no 37º Batalhão, os dois soldados foram presos em flagrante acusados de realizar um arrastão nas ruas do Capão Redondo. Segundo as investigações, a dupla de policiais cometeu os crimes minutos após sair de uma casa noturna.

Belmudes e Moura estavam de folga e à paisana, mas portavam pistolas calibre 40 da Polícia Militar, além de um simulacro (réplica de arma de fogo). A Polícia Civil apurou que o filho de Ana Cristina foi abordado pelos PMs por volta das 5h50.

O adolescente contou no 47º DP (Capão Redondo) que conversava com Marcos e Thalison quando os dois homens armados chegaram e os obrigaram a encostar em um muro e ficar com as mãos para o alto. O menor acrescentou que foi agredido com chutes e socos e teve de entregar o celular.

Marcos afirmou que levou um soco nas costas. Ele foi indagado se tinha dinheiro e telefone celular. Thalison chegou a desconfiar que os dois homens eram PMs porque um deles disse que ele iria assumir um "33" (crime por tráfico de drogas).

Cláudio só soube da identidade dos dois homens na delegacia. "Quando fui abordado, por volta das 6h15, pensei que estava sendo assaltado por ladrões comuns. Jamais imaginei que eram policiais militares. Só soube disso quando fui chamado no distrito policial para dar declarações", contou.

Flagrante

Os dois PMs foram presos por colegas do próprio batalhão onde trabalhavam. O tenente Dantas e o aspirante Vitor faziam patrulhamento e foram avisados de que um homem usando boné vermelho e camisa preta e outro com blusa de moletom preta estavam praticando roubos na região.

Dantas e Vitor avistaram um Chevrolet Onix branco e abordaram os dois ocupantes. Um deles era Belmudes, o outro, Moura. Os acusados negaram a prática dos crimes, mas acabaram autuados em flagrante por roubo e constrangimento ilegal no 47º DP. A capa do celular de uma das vítimas foi apreendida com ambos. Eles disseram que estavam em uma casa noturna e saíram de lá depois de expulsar do estabelecimento um homem que teria agredido a mulher.

Belmudes e Moura disseram que depois foram para um local onde funciona um ponto de venda de drogas para tentar encontrar o suposto agressor da mulher, mas não o encontraram e acabaram abordando outras pessoas suspeitas.

O UOL não conseguiu encontrar os advogados de Belmudes e Moura. A reportagem enviou email para o Presídio Militar Romão Gomes —para onde os PMs foram levados— e perguntou se a prisão em flagrante deles foi convertida em prisão preventiva. Porém não houve resposta.

* A reportagem suprimiu os sobrenomes das vítimas para preservar suas identidades.