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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Médico que atestou óbito de 'Escobar brasileiro' é investigado na Espanha

O ex-policial militar Sérgio Roberto de Carvalho, 62, conhecido como Major Carvalho - Reprodução/Ministério da Segurança Pública
O ex-policial militar Sérgio Roberto de Carvalho, 62, conhecido como Major Carvalho Imagem: Reprodução/Ministério da Segurança Pública

Colunista do UOL

24/01/2022 04h00Atualizada em 26/01/2022 11h11

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O médico esteticista Pedro Martín Martos, acusado de ter assinado o atestado de óbito do ex-major da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul Sérgio Roberto de Carvalho, 63, o Major Carvalho, está na mira da polícia e da Justiça da Espanha.

Os dados de Martos constam em um processo de mais de 6 mil páginas que tramita na Justiça da Espanha sobre tráfico internacional de drogas, envolvendo o Major Carvalho, chamado na Europa de "Escobar brasileiro" e apontado como um dos maiores narcotraficantes do mundo".

A reportagem teve acesso à declaração de óbito (veja abaixo). O esteticista assinou o atestado da morte de Paul Wouter, um dos nomes falsos usados pelo Major Carvalho. O nome de um suposto amigo do "Escobar brasileiro", identificado como Francisco Jesus Pascual Montero, aparece no documento.

Atestado - Reprodução - Reprodução
Atestado médico com nome falso usado pelo Major Carvalho, o 'Escobar brasileiro'
Imagem: Reprodução

Segundo as autoridades espanholas, Montero figura como testemunha no atestado de óbito e declarou que foi a última pessoa a ter visto Paul Wouter ainda vivo. O suposto amigo do Major Carvalho também é alvo de investigação da Polícia Judiciária espanhola.

No atestado de óbito é mencionado que Paul Wouter é um cidadão do Suriname, nascido em 16 de dezembro de 1965 e com endereço domiciliar em San Juan Bosco, em Marbella, Málaga. O documento diz ainda que a morte ocorreu às 10h50 de 29 de agosto de 2020.

Há informações de que o corpo foi cremado em Marbella. Para as autoridades espanholas, o Major Carvalho está vivo, falsificou documentos e passaportes com o nome de Paul Wouter e forjou a morte dessa pessoa.

Ele fez isso porque foi preso com o nome falso de Paul Wouter em agosto de 2018, na Galícia, por tráfico internacional de drogas. A quadrilha liderada por ele foi flagrada com 1,7 tonelada de cocaína escondida em uma embarcação.

Paul Wouter foi condenado a 13 anos de prisão e saiu em liberdade após pagar uma multa de 200 mil euros. Ele forjou a própria morte para se livrar de vez da condenação em território espanhol. A Justiça espanhola considerou verdadeiro o atestado de óbito e o declarou como morto. Mas a PF brasileira descobriu a farsa e avisou as autoridades daquele país.

médico - Reprodução - Reprodução
Pedro Martín Martos, acusado de ter assinado o atestado de óbito do 'Escobar brasileiro'
Imagem: Reprodução

A coluna entrou em contato com o médico, por email, para saber a versão dele sobre o caso. A resposta dele será publicada assim que houver um retorno.

O esteticista foi chamado a um tribunal espanhol para dar explicações. A polícia de Málaga segue todos os passos dele. O médico é bem conceituado na Espanha e atende na Cenyt Unidad Estética, uma clínica famosa localizada em Málaga.

O site da clínica afirma que Martos tem doutorado nas universidades de Granada e Málaga, master em Medicina Estética pela Universidade de Córdoba e formação também em Medicina Estética em Fortaleza, no Brasil.

As autoridades espanholas investigam se o médico, quando estudou no Brasil, conhecia ou tinha amizade com o Major Carvalho.

R$ 2,25 bilhões movimentados

Tabletes de cocaína em meio a carga de café verde, tipo arábica, a granel, que iria para o porto de Antuérpia - 15.out.2019 - Divulgação/Receita Federal - 15.out.2019 - Divulgação/Receita Federal
Tabletes de cocaína em meio a carga de café que iria para o porto de Antuérpia
Imagem: 15.out.2019 - Divulgação/Receita Federal

A Polícia Federal apurou que o "Escobar brasileiro" movimentou R$ 2,25 bilhões entre os anos de 2018 e 2020, tentando exportar 45 toneladas de cocaína à Europa.

No Brasil, o porto de Paranaguá (PR) era o preferido da quadrilha do Major Carvalho para as remessas de drogas ao Velho Continente. No território europeu, os integrantes do bando escolheram com maior frequência o porto de Antuérpia, na Bélgica, e depois o de Roterdã, na Holanda.

Ainda de acordo com a PF, para lavar o dinheiro arrecadado com o tráfico de cocaína, o "Escobar brasileiro" fretou até um Boeing F-400, de 400 toneladas, para importar da China 10 milhões de máscaras de proteção contra a covid-19 para o Brasil. O cargueiro pousou no aeroporto der Florianópolis em 11 de junho de 2020.

A PF apurou ainda que o Major Carvalho tentou importar 36 milhões de máscaras para o governo de São Paulo, por R$ 104,4 milhões, mas o negócio não deu certo porque houve atraso na entrega do material e a nota de empenho foi cancelada.