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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Rei da indisciplina rompe tornozeleira na saída temporária e ficará livre

Gabriel Nekis - Reprodução/UOL
Gabriel Nekis Imagem: Reprodução/UOL

Colunista do UOL

06/07/2022 04h00

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Em 20 meses trancafiado na Penitenciária Federal de Brasília, o preso Gabriel Nekis Gonçalves, 28, integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital) e apontado pelas autoridades carcerárias como o rei da indisciplina, teve 24 procedimentos internos registrados em seu prontuário.

Gonçalves foi transferido da Penitenciária 1 de Presidente Venceslau (SP) para o presídio federal em 31 de julho de 2020 sob a acusação de ter sido flagrado com bilhetes contendo ameaças de atentados contra agentes das forças de segurança e funcionários do sistema prisional de São Paulo.

A falta mais grave cometida em Brasília aconteceu em 13 de outubro de 2020. Durante o banho de sol, Gonçalves tentou se comunicar com líderes do PCC, ameaçou abrir portas do pátio e se recusou a voltar para a cela. Os federais usaram explosivo não letal para contê-lo. O detento ficou isolado 25 dias.

Em 15 de março deste ano, o preso foi mandado de volta para São Paulo. Ele passou pelos CDPs (Centros de Detenção Provisória) do Belém, na zona leste paulistana e de Caiuá, no Oeste do estado, até ser transferido para o CPP (Centro de Progressão Penitenciária) de Valparaíso, também no interior.

Nas prisões paulistas, Gonçalves, também chamado de recordista em faltas de natureza grave, cometeu 19 atos de indisciplina em quatro anos de prisão, de 2015 a 2019, conforme divulgou esta coluna com exclusividade na edição de 25 de dezembro de 2020.

Mesmo acusado por mau comportamento e péssimos antecedentes nas prisões por onde passou, Gonçalves foi beneficiado pela Justiça com a progressão para o regime semiaberto. Mas não demorou muito para aprontar novamente.

Por decisão judicial, o prisioneiro foi autorizado a deixar o CPP de Valparaíso na saída temporária em 14 de junho deste ano. Gonçalves foi advertido de que deveria permanecer em casa, no jardim Nova Esperança, em Bauru (SP), no horário das 19h às 7h.

Regras violadas

Ele violou as regras logo nos primeiros dias. A SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) apurou que na noite de 18 de junho o preso foi para um shopping center e ficou lá até o início da madrugada seguinte. Pela manhã, ele não carregou de propósito a bateria da tornozeleira eletrônica.

Todos os dados foram apagados, incluindo os locais por onde o prisioneiro circulou. O equipamento deixou registrada apenas a última localização: o endereço do presidiário. A Justiça expediu um mandado de recaptura do preso e suspendeu o benefício do regime semiaberto concedido a ele.

Por volta das 19h do dia 20 de junho, Gonçalves se apresentou em uma base da Polícia Militar de Bauru. Ele disse que cumpria pena no semiaberto de Valparaíso, alegou que deveria se apresentar à unidade até 17h, mas se enganou, pensando que o prazo para o retorno terminaria no dia seguinte.

Gonçalves foi removido para o CDP de Bauru, onde os presos são mantidos em regime fechado. Segundo as autoridades carcerárias, as suspeitas são de que o presidiário, ao deixar a Penitenciária Federal de Brasília, foi orientado pela liderança do PCC a dar continuidade aos planos de atentados contra agentes públicos.

O detento é considerado no sistema prisional um criminoso de alta periculosidade. A Justiça recebeu dois pedidos de prisão preventiva contra Gonçalves, por causa dos planos de atentados, mas indeferiu ambos por considerar que ele já está preso. Só que a pena do presidiário, condenado por roubo, vence em 11 de janeiro de 2023 e, até lá, ele deverá ser solto.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Gabriel Nekis Gonçalves, mas publicará na íntegra a versão dos defensores dele assim que houver manifestação.