'Vai ser difícil resgatar a boa imagem da Rota', desabafa policial militar

Conhecida como a tropa de elite da Polícia Militar, a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), unidade mais letal da corporação, teve a imagem manchada nos últimos anos, com caso de furto no batalhão e PMs sob investigação por suposto envolvimento com o crime organizado.
A Corregedoria da PM investiga militares que atuaram na AI (Agência de Inteligência) e na seção de rádio da Rota. Segundo a Polícia Militar, eles integram o núcleo chamado de "vazamento" e teriam repassado informações sigilosas a criminosos do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Outros PMs do serviço reservado da Rota que faziam levantamentos de integrantes da cúpula do PCC e relatórios confidenciais sobre as atividades de chefes da facção criminosa em liberdade também teriam passado para o lado do crime.
"A imagem da Rota está bem desgastada e vai ser muito difícil resgatá-la e recuperá-la", desabafou um ex-policial militar que serviu durante décadas no batalhão rotariano e hoje é homem de confiança da força-tarefa que apura o assassinato de Gritzbach.
Entre os beneficiados pelo esquema do "núcleo vazamento" estariam os narcotraficantes Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta, e Cláudio Marcos de Almeida, o Django, ambos assassinados na guerra interna do PCC, e Sílvio Luís Ferreira, o Cebola, foragido da Justiça.
Os três eram acionistas da UPBus e inimigos do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, assassinado a tiros por três policiais militares já presos, a mando do PCC. O crime aconteceu em 8 de novembro do ano passado no aeroporto internacional de Guarulhos, o maior do Brasil.
Escolta passou pela Rota
Com medo de ser morto, Gritbach havia contratado 14 policiais militares para cuidar da segurança particular dele. Eles foram presos e fazem parte de outro núcleo investigado pela Corregedoria: o de segurança pessoal. Há informações extraoficiais de que todos eles já atuaram no batalhão da Rota.
Mas a imagem da antiga tropa de elite da Polícia Militar começou a ficar desgastada mesmo em 2013, quando ao menos 31 pistolas automáticas foram furtadas do quartel do batalhão. O episódio à época foi considerado um escândalo nos meios militares.
Segundo investigadores do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, as armas da Rota foram vendidas para criminosos e reforçaram o arsenal do PCC, a maior facção criminosa do Brasil e uma das mais temidas da América Latina.
Uma das pistolas furtadas, modelo 24/7, número SDM 115558, foi usada por Everaldo Severino da Silva Félix, o Sem Fronteira, líder do PCC na favela de Paraisópolis, zona sul da cidade de São Paulo, para matar o soldado da PM Genivaldo Carvalho Pereira, em 21 de março de 2013.
Arma furtada usada nas mãos do PCC
O soldado tinha uma namorada em Paraisópolis. À época, o irmão dela estava preso no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Jundiaí (SP). O DHPP apurou que Sem Fronteira descobriu que Pereira era policial militar e desconfiou que ele frequentava a favela para investigar o tráfico de drogas.
As investigações apontaram ainda que Sem Fronteira abordou, dominou e agrediu o soldado. Depois mandou que os três parceiros que estavam com ele algemassem o policial militar. O líder do PCC em Paraisópolis, então, exigiu que o soldado Pereira se ajoelhasse.
Logo em seguida ordenou que cada um dos comparsas atirasse na cabeça de Pereira. O corpo do PM e a farda dele foram colocados no porta-malas de um carro que o soldado havia emprestado de um amigo, também militar. O veículo foi abandonado em uma rua na Vila das Belezas, zona sul paulistana.
Sem Fronteira acabou preso por tráfico de drogas em maio de 2014 e saiu da prisão, em liberdade condicional, em novembro de 2016.
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