Josmar Jozino

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Reportagem

Olheiro do PCC é investigado por lavagem de dinheiro após vínculo com ONG

Mais um crime vai ser imputado a Kauê do Amaral Coelho, 29, o olheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital), envolvido no assassinato de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, morto com tiros de fuzis em 8 de novembro do ano passado no aeroporto internacional de Guarulhos.

Ele passou a ser investigado também por lavagem de dinheiro após ter seu nome vinculado à ONG (Organização não Governamental) Pacto Social e Carcerário, alvo de uma operação deflagrada no último dia 14 pelo MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo).

Segundo investigações, durante buscas na casa de Luciene Neves Ferreira e Geraldo Sales da Costa, presidente e vice da ONG, presos na Operação Scream Fake, foram encontrados documentos indicando que Kauê pagou R$ 18.350,00 de passagens aéreas à Europa para Rodrigo Gianetto, em 4 de outubro de 2024.

O beneficiário das passagens é o diretor do documentário "O Grito - Regime Disciplinar Diferenciado", lançado pela Netflix em 29 de setembro de 2024. Ele viajou para Barcelona (Espanha), Palermo e Milão (Itália) e Londres (Inglaterra).

As passagens foram adquiridas em uma agência de turismo na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, como divulgou esta coluna ontem em primeira mão.

Em Milão, apontam as investigações da Polícia Civil, Gianetto participou do Festival Internazionale Nebrodi Cinema Doc, realizado entre os dias 7 e 13 de outubro.

Kauê está foragido. Ele é apontado como o olheiro que avisou os assassinos de Gritzbadh sobre o exato momento em que a vítima deixava o terminal 2 do aeroporto internacional, logo após desembarcar de um voo procedente de Maceió, em Alagoas.

O olheiro já havia sido indiciado por homicídio, associação à organização criminosa e tráfico de drogas. Agora vai responder também pelo crime de lavagem de dinheiro, já que é acusado de ter usado dinheiro do PCC para pagar as passagens aéreas.

A Polícia Civil indiciou 12 pessoas investigadas na Operação Scream Fake. Três são advogados. O vice-presidente é acusado de ter movimentado R$ 12,5 milhões em suas contas bancárias no período de janeiro de 2018 a junho de 2022.

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Dirigente foi personagem

Geraldo foi um dos personagens de "O Grito". O documentário narra histórias das famílias de pessoas presas que foram afetadas pela portaria 157/2019 - que proibiu o contato físico e privou detentos nos presídios federais de segurança máxima de manter seus laços sociais e afetivos.

Também participaram de "O Grito" diversas autoridades, como Luís Roberto Barroso (Ministro do STF), Anielle Franco (Ministra da Igualdade Racial), Padre Júlio Lancelotti, Dexter Oitavo Anjo, Oruam (filho de Marcinho VP), Siro Darlan, Luís Valois, Kenarik Boujikian, Erica Kokay, Orlando Zaccone, entre outros.

O documentário também apresentou entrevistas de familiares de presos como Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC, e Paulo César Souza Nascimento Júnior, o Paulinho Neblina, também do PCC, de Marcinho VP, do CV (Comando Vermelho) do Rio de Janeiro, e outros.

O diretor Rodrigo Gianetto disse que "O Grito" tratou de um tema "muito impopular e delicado" e que "foi produzido com muita responsabilidade". "Como todo trabalho jornalístico, pesquisamos e tivemos que apurar muito sobre o assunto que formatou uma reflexão importante sobre direitos humanos", afirmou.

"Específico sobre a ONG Pacto Social recebemos com tristeza a prisão dos responsáveis pois a nós e nosso filme ajudaram a dar um panorama sobre a rotina de familiares de presos", disse.

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O filme foi importante para esse debate, dando voz a todas as partes relacionadas ao assunto e teve repercussão em festivais de cinema internacionais e toda viabilização das viagens foi realizado de forma lícita. Não conhecemos os processos e envolvidos com a ONG Pacto Social em sua área administrativa, nós da produção desconhecemos o citado na matéria Kaue e as equipes internas da Ong, mas estou a disposição para ajudar e qualquer esclarecimento sobre o caso.
Rodrigo Gianetto, diretor de "O Grito"

Os advogados de Kauê do Amaral Coelho, Luciane Neves Ferreira e Geraldo Sales Cosa não foram localizados. O espaço segue aberto manifestação dos defensores de todos eles.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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