MP denuncia donos de ONG suspeita de montar 'plano de saúde' do PCC

O MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) denunciou 12 pessoas, incluindo três advogados e dois dirigentes da ONG Pacto Social e Carcerário São Paulo (associação de familiares e amigos de reclusos) sob suspeita de ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Os 12 denunciados foram alvos de mandados de prisão durante a Operação Scream Fake (grito falso, em inglês), deflagrada no último dia 14 pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) e pela Polícia Civil de São Paulo.
Investigadores afirmam que o PCC, por meio da ONG, montou um "plano de saúde" para prestar serviços de atendimentos médicos e odontológicos a integrantes da facção presos em São Paulo, principalmente aos presidiários da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.
Segundo a denúncia, médicos e dentistas foram contratados por advogados e pagos com dinheiro ilícito da organização criminosa. Os serviços incluíam implantes dentários e até procedimentos estéticos, como clareamento dental e botox.
A ONG começou a ser investigada em 12 de setembro de 2021, quando Kethelen Camila Souza, 26, também alvo da Operação Scream Fake, foi visitar o marido preso na Penitenciária 2 de Venceslau e acabou flagrada com quatro cartões de memórias escondidos na barra da calça.
O material tinha citações sobre o tráfico de drogas e a algumas células do PCC, como a "sintonia dos gravatas" ou o braço jurídico da facção; o setor de saúde, com nomes de advogados e médicos e dentistas contratados para atender os presos; e também o setor de reivindicações.
Segundo o MP-SP, "a investigação comprovou que o PCC financiava atendimento de saúde para alguns de seus integrantes, realizando o pagamento de tais serviços por meio de recursos obtidos ao seu caixa ilegal, alimentado através de atividades criminosas".
O setor de reivindicações criado pelo PCC, diz o MP, "vinha atuando por meio da ONG Pacto Social para divulgar falsas acusações de torturas e abusos por parte de agentes estatais, especialmente nos presídios, visando a desestabilização do sistema penitenciário estadual.
Se a Justiça aceitar a denúncia oferecida pelo MP-SP, os acusados se tornarão réus e responderão a processo por associação à organização criminosa.
Olheiro do PCC
A reportagem apurou que Geraldo Sales da Costa, 55, vice-presidente da ONG, movimentou, segundo a Polícia Civil, R$ 12,5 milhões em suas contas bancárias de janeiro de 2018 a junho de 2022. Ele e a mulher, Luciene Neves, 46, foram presos e estão entre os denunciados.
O nome da operação, "Scream Fake", refere-se a uma participação da ONG no documentário "O Grito - Regime Disciplinar Diferenciado" (2024), exibido na Netflix.
Geraldo foi um dos entrevistados do filme. O documentário narra histórias das famílias de pessoas presas que foram afetadas pela portaria 157/2019 —que proibiu o contato físico e privou detentos nos presídios federais de segurança máxima de manter seus laços sociais e afetivos.
A Polícia Civil apurou que Kauê do Amaral Coelho, 29, apontado como integrante do PCC e envolvido na morte de Vinícius Gritzbach —assassinado a tiros em 8 de novembro do ano passado no aeroporto de Guarulhos— pagou passagens áreas para a Europa ao diretor do documentário, Rodrigo Gianetto.
Em nota enviada à reportagem, Gianetto afirmou que o filme teve repercussão em festivais de cinemas internacionais e que a viabilização da viagem à Europa foi realizada de forma lícita. Ele disse que não conhece Kauê e que está disposto a ajudar a prestar esclarecimentos sobre o caso.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Geraldo Sales, Luciene Neves e Kauê Coelho. O espaço permanece aberto para manifestações. O texto será atualizado se houver um posicionamento dos defensores.
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