Policiais rivais de Gritzbach tinham R$ 10 mil em cela e tumultuaram prisão
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A chegada dos investigadores Valdenir Paulo de Almeida, 57, o Xixo e Valdir Pinheiro, 55, o Bolsonaro, ao Presídio Especial da Polícia Civil, no Carandiru, zona norte de São Paulo, em setembro do ano passado, tumultuou a unidade prisional.
A informação foi confirmada à reportagem, na condição de anonimato, por fontes da força-tarefa que participaram de uma blitz na manhã de ontem no presídio. A operação foi realizada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e pela Corregedoria da Polícia Civil.

Foram apreendidos 23 telefones celulares —um para cada três presos—, R$ 21.672,15, 11 smartwatches (relógios inteligentes), 13 carregadores de celular, 26 fones de ouvido, notebook, pequena quantidade de droga, dólar, euro e até contabilidade das despesas dos presos com planos de internet.
Segundo as fontes da força-tarefa, na cela de Xixo e Bolsonaro foram encontrados R$ 10 mil em espécie, porção de drogas e telefones celulares. Os dois investigadores correm risco de serem transferidos para um CDP (Centro de Detenção Provisória), onde ficam presos comuns.
As mesmas fontes disseram que antes da chegada dos dois, o clima era de tranquilidade na prisão. Detentos do regime semiaberto e outros do regime fechado, que já estão prestes a ganhar a liberdade, disseram às autoridades carcerárias que não querem conviver com Xixo e Bolsonaro na prisão.

O Presídio Especial da Polícia Civil abrigava ontem 69 presos, entre eles o delegado Fábio Baena, investigadores Eduardo Monteiro, Marcelo Marques de Souza, o Bombom e Marcelo Rugieri, o Xará, além do agente de telecomunicações Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho.
Os cinco policiais são investigados por suspeita de corrupção e também foram alvo da operação de ontem. Eles acabaram delatados pelo empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, assassinado a tiros em 8 de novembro do ano passado no aeroporto internacional de Guarulhos.
A Corregedoria da Polícia Civil já havia investigado Xixo e Bolsonaro por um suposto sequestro de Gritzbach. Os dois policiais eram ligados ao delator, mas depois viraram inimigos dele. O inquérito acabou arquivado por falta de provas.
Propina de R$ 800 mil
Investigações da Polícia Federal apontaram que foi em três parcelas que Xixo, e Bolsonaro, receberam R$ 800 mil de um dos maiores exportadores de cocaína para a Europa, para interromper uma investigação sobre tráfico internacional de drogas.
A propina foi paga pelo narcotraficante João Carlos Camisa Nova Júnior, 39, o Dom Corleone, em 25 de novembro de 2020, por meio de uma empresa de fachada. A PF apurou que o criminoso fez dois depósitos de R$ 300 mil e um de R$ 200 mil na conta de um "laranja" dos policiais.
O pagamento foi intermediado pelo também narcotraficante André Roberto da Silva, o Urso, comparsa de Dom Corleone, e dois advogados acusados de envolvimento no esquema e também investigados pela Polícia Federal e MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo).
Camisa Nova e André foram acusados de tentar exportar 2,7 toneladas de cocaína para a Europa em 2020. A droga foi apreendida. O primeiro acabou condenado a 32 anos, um mês e 11 dias. O segundo recebeu uma pena de 27 anos e dez dias de reclusão.
Xixo e Bolsonaro tralhavam à época no Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico. Segundo a PF, ambos receberam a propina em troca de não levar adiante a Operação Alfaiate, que investigava a quadrilha de narcotraficantes.
André havia sido preso no final de 2021. Agentes federais apreenderam o telefone celular dele na ocasião. O aparelho foi periciado e as análises mostram detalhadamente as trocas de mensagens e áudios entre o criminoso e os policiais civis negociando o pagamento da propina.
Movimentações milionárias
Conforme divulgou ontem esta coluna, Xixo recebia da Polícia Civil de São Paulo um salário líquido de R$ 5.165,10, mas movimentou R$ 16.199.112,03 em suas seis contas bancárias entre 1º de setembro de 2017 a 23 de agosto de 2023.
Bolsonaro ganhava R$ 7 mil líquidos por mês e registrou em cinco contas bancárias transações financeiras no valor de R$ 13.582.438,62. Eles eram do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico).
O juiz Paulo Fernando Deroma de Mello, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital decretou a prisão preventiva dos dois policiais civis. A dupla foi alvo da Operação Face Off, deflagrada em setembro pela PF e Gaeco.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Valdenir e Valmir. O espaço continua aberto para manifestações dos defensores de todos eles. O texto será atualizado se houver um posicionamento.
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