Josmar Jozino

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Reportagem

'Concierge' do PCC quis sequestrar filhas de segurança de Cristiano Ronaldo

O preso Willian Barile Agati, 38, o Senna ou Boxeador, apontado pela Polícia Federal como o "concierge" (espécie de gerente ou supervisor) do PCC (Primeiro Comando da Capital), foi transferido da Penitenciária 1 de Presidente Venceslau (SP) para a Penitenciária Federal de Brasília . Investigação da PF aponta que Senna bolou plano para sequestrar as filhas do ex-atleta de MMA, o português Gonçalo Salgado, ex-segurança do jogador Cristiano Ronaldo.

A remoção foi autorizada pelo juiz-corregedor do presídio e da 15ª Vara Federal de Brasília, Francisco Codevila. Para a Justiça, o preso integra organização criminosa armada com atuação transnacional, planejou sequestro em Portugal, resgate de preso na África e ocupa posição relevante perante a cúpula do PCC. A defesa do prisioneiro nega todas as acuações (leia abaixo).

O presidiário agora vai se juntar a Marco Willians Herbas Camacho, 57, o Marcola, apontado pelo MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), como o líder máximo do PCC, encarcerado em Brasília.

Senna foi preso pela Polícia Federal em janeiro deste ano na Operação Mafiusi. A PF diz que ele tinha conexões com a máfia italiana 'Ndrangheta, liderava uma rede de tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro do PCC e movimentou R$ 2 bilhões entre janeiro de 2018 a outubro de 2022.

O detento estava recolhido na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau (SP). A coluna apurou com fontes do sistema prisional que, com a chegada do prisioneiro na unidade, no dia 21 de fevereiro deste ano, a rotina na prisão foi alterada.

Dos 16 prisioneiros da ala de inclusão da P-1 de Venceslau, 15 foram retirados das celas e distribuídos em outros raios. No setor ficou apenas o presidiário Marcos Paulo da Silva, 46, o Lucífer, o "nome da morte", que diz ter matado 48 inimigos dentro dos presídios paulistas.

Apuração preliminar

A SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária), subordinada ao governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) instaurou uma apuração preliminar para saber quem passou à reportagem informações sobre a mudança na rotina da P-1 de Venceslau após a chegada de Senna.

Vários funcionários foram intimados a depor. A SAP quer saber também como a reportagem teve acesso a uma foto do presidiário com os cabelos raspados.

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Advogados ouvidos pelo UOL disseram que a própria SAP é suspeita de divulgar à imprensa vídeos com imagens de presos, como a do narcotraficante André Oliveira Macedo, o André do Rap, se despedindo dos presos na P-2 de Venceslau em outubro de 2020, quando saiu em liberdade.

Para o Sinppenal (Sindicato dos Policiais Penais do Estado de São Paulo), a atitude da SAP em abrir apuração preliminar para saber quem é fonte de jornalista representa um caso alarmante de perseguição aos funcionários e é um padrão de assédio moral grave". O sindicato acrescentou que tem combatido essas práticas abusivas por meio de ações judiciais.

Carga de cocaína sumiu

Até ser preso, Senna era desconhecido da mídia e da massa carcerária. Mas, segundo a PF, ele tinha vínculos com o PCC e era o responsável por operacionalizar a lavagem de dinheiro proveniente das ações do tráfico internacional de drogas pelo porto de Paranaguá (PR).

O preso, diz a PF, propôs até pagar US$ 1,5 milhão para resgatar o narcotraficante Gilberto Aparecido dos Santos, 54, o Fuminho —braço direito de Marcola, quando o criminoso foi capturado em Moçambique, na África.

A investigação da PF aponta que Senna também queria sequestrar as filhas do ex-atleta de MMA, o português Gonçalo Salgado, ex-segurança do jogador Cristiano Ronaldo, porque o ex-lutador teria sumido com uma carga de cocaína da quadrilha do narcotraficante brasileiro.

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O que diz a defesa do preso

Eduardo Maurício, advogado de Willian Agati, disse por meio de nota que seu cliente é inocente, não praticou nenhum crime (seja ele qual for) e que tudo ficará provado na instrução processual, "já que Agati é um empresário idôneo em diversos ramos nacionais e internacionais sem nunca ter respondido nenhum processo na Justiça e não tem conexão com o PCC ou com a máfia italiana.

O advogado acrescentou que "a defesa busca que Agati responda ao processo em liberdade e aguarda julgamento de Habeas Corpus perante o Superior Tribunal de Justiça, já que a prisão do cliente é ilegal e abusiva".

Segundo Eduardo Maurício, a transferência de presídio de Agati pela terceira vez em menos de dois meses fere os Direitos Humanos e princípios e garantias constitucionais".

Ao final, esclarece a defesa, "Willian Agati nunca quis sequestrar as filhas do segurança do jogador de futebol português Cristiano Ronaldo, desconhece essa pessoa e também áudios e mensagens, atribuídas ao cliente, já que não é interlocutor de nenhuma conversa".

Eduardo Maurício afirma ainda que "Willian Agati nunca utilizou o telefone criptografado SKY ECC, que inclusive é prova nula de pleno direito, conforme a legislação brasileira, pois afronta a cadeia de custódia da prova digital, manipulada pela polícia francesa, não tendo como atestar a originalidade, a fiabilidade e a lei da interceptação telefônica".

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.