Do trabalho na roça à prisão: três irmãos condenados por sequestro em SP
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Moradora em Ilhéus, na Bahia, Sílvia Letícia Ferreira Morais de Novaes foi testemunha de defesa dos filhos Vinícius, 29, Victor, 23, e Gabriel Morais Soares, 21, condenados no mês passado em São Paulo por roubo, extorsão mediante sequestro e associação à organização criminosa.
Sílvia afirmou ao juiz Paulo Fernando Deroma de Mello que os filhos pegavam na enxada na roça no Ceará e na Bahia, acordavam às 5h e trabalhavam até tarde, eram responsáveis, bons alunos e sempre ajudaram nas despesas da casa. A fala da mãe não teve o resultado esperado por ela.
O magistrado, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital aplicou, no dia 14 de março, uma pena de 32 anos para Vinícius e Victor. Gabriel foi condenado a 27 anos porque na época dos crimes tinha menos de 21 anos.
Segundo denúncia do MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), em 15 de agosto de 2022, os Soares sequestraram dois homens na Vila Maria, zona norte de São Paulo, e mantiveram as vítimas em cativeiro, sob ameaça de morte, durante cinco horas.
Nove dias depois — continua a denúncia do MP-SP —, os Soares e ao menos outros sete indivíduos não identificados, portando armas de fogo, roubaram um Renault Master veículo e sequestraram um casal no acesso da rodovia Presidente Dutra, em Guarulhos, na Grande São Paulo.
Operações pela internet
As investigações da Polícia Civil apontaram que a quadrilha integrava uma organização criminosa voltada à prática de roubos e extorsão mediante sequestro. Uma parte do bando arrebatava as vítimas e as levava para cativeiro.
Esse núcleo apavorava os sequestrados. Os criminosos ameaçavam matar todos para exigir senhas bancárias e desviar o dinheiro das contas correntes das vítimas. As operações eram realizadas pela internet, e os veículos roubados eram vendidos e desmanchados.
A Polícia Civil apurou que Gabriel, Victor e Vinícius faziam parte desse núcleo. Os investigadores afirmam que os irmãos estavam diretamente em contato com as vítimas, desde a chegada delas aos cativeiros até o recebimento das quantias extorquidas.
A denúncia do MP-SP acrescenta que os irmãos Soares foram reconhecidos pelas vítimas. O casal atacado na Dutra contou aos policiais que foi abordado por Victor. O assaltante conduzia uma moto e afirmou para a motorista do Renault Master, que o ferro do estepe de um dos pneus do carro havia se soltado.
'Revólver na cara'
Ao parar o veículo, casal foi abordado por Victor. Ele anunciou o assalto e disse em tom de deboche: "Vem pro carro. Eu gosto de roubar assim, metendo o cano [revólver] na cara". Em seguida, eles também ficaram na mira de outros dois ladrões armados.
A motorista e ajudante entregavam produtos da Mercado Livre quando foram atacados. Eles foram colocados em um Chevrolet Spin. O casal revelou que havia outros integrantes da quadrilha na pista da Dutra e acrescentou que um deles era Vinícius. O bando também roubou R$ 13.4567,13 em encomendas.
Os outros dois homens abordados na Vila Maria ocupavam um Renault Master, do tipo furgão, e também estavam a serviço da Mercado Livre. Ambos tiveram de entregar os telefones celulares e foram levados para uma casa com portão de grade azul.
As vítimas disseram que ficaram 20 minutos sob a mira de armas e foram ameaçadas por Victor e Vinícius, e vigiadas por Gabriel. Os dois homens foram mantidos em um quarto onde havia um cobertor e uma vasilha com água. Segundo eles, os irmãos Soares serviam marmita parcialmente consumida para eles.
Victor foi preso em 28 de outubro de 2022 e Gabriel em 12 de agosto de 2023. Eles estão detidos no CDP 1 (Centro de Detenção Provisória-1) de Guarulhos.
Já Vinicius foi preso em 4 de dezembro de 2023. Porém, apresentou carteira de trabalho assinada e foi solto. Ele respondeu ao processo em liberdade.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos réus. O espaço continua aberto para manifestações. O texto será atualizado se houver um posicionamento dos defensores dos três irmãos condenados.