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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Impulsionamento de posts: a maior despesa de Carlos Bolsonaro na eleição

Carlos Bolsonaro foi eleito vereador com menos votos do que em 2016 - Flickr Bolsonaro
Carlos Bolsonaro foi eleito vereador com menos votos do que em 2016 Imagem: Flickr Bolsonaro

Colunista do UOL

04/05/2021 04h00

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A família Bolsonaro sempre negou acusações de uso de robôs, do pagamento para disparos em massa e sempre fez questão de dizer que o engajamento de suas redes era orgânico. Em 2018, nem o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nem Flávio Bolsonaro fizeram qualquer contratação de anúncios pagos nas redes sociais.

As coisas mudaram. No ano passado, a principal despesa de campanha de reeleição do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi com o pagamento de 23 anúncios em sua página no Facebook e no seu perfil no Instagram ao longo dos dois meses da campanha eleitoral.

Ao todo, foram 17 posts com impulsionamento em novembro e outros seis em outubro. Do total, 14 posts foram impulsionados tanto no Facebook quanto no Instagram. Outros sete só ganharam incentivo financeiro no Facebook e dois foram pagos apenas no perfil de Carlos no Instagram.

Ele gastou R$ 39,5 mil com os anúncios e foi a sua maior despesa na campanha eleitoral. Segundo suas declarações atualizadas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ele gastou um total de R$ 76,5 mil. Ou seja, os anúncios no Facebook representam 51,6% de suas despesas. Alguns desses dados, porém, só apareceram na plataforma recentemente.

Procurado, o vereador não retornou.

Páginas derrubadas no Facebook e Instagram

No ano passado, meses antes da eleição, o Facebook e o Instagram derrubaram páginas e perfis ligados à família Bolsonaro alegando que as contas tinham comportamento inautêntico, ou seja, faziam uso de contas falsas e atuavam de maneira coordenada para engajar público com informações falsas.

Em 2018, reportagem do jornal Folha de S. Paulo mostrou que a campanha de Bolsonaro fez disparo em massa de mensagens pelo Whatspp.

Dados levantados por Pedro Bruzzi, sócio da Arquimedes, consultoria de política e redes sociais, mostram que Carlos sofreu com uma baixa de interações em suas redes sociais, sobretudo no segundo semestre.

Por exemplo, no Facebook, ele teve uma queda acentuada nas interações. Ao todo, de julho a setembro, ocorreu uma redução de 44,2% quando comparado com as interações do trimestre anterior, de abril a junho. Ele volta a ter crescimento de interações no período de impulsionamento, mas um crescimento de apenas 11,6%.

O primeiro trimestre deste ano registra alguma recuperação, especialmente no perfil do Instagram onde ele voltou a ter cerca de 7 milhões de interações. Já no Facebook, o crescimento foi de 16,7%. Já no perfil de Carlos no Instagram, a queda foi maior. Entre janeiro e março de 2020, Carlos tinha interações em um total de 9,8 milhões. Já no último trimestre do ano passado, outubro a dezembro, as interações foram de 3,6 milhões.

Bruzzi acredita que os números estão relacionados ao estilo dos posts. No segundo semestre, tanto Carlos como Jair Bolsonaro fizeram muitas postagens divulgando ações do governo federal. "Ele já entra no modo campanha, tentando mostrar que o governo (do pai) está trabalhando, mas há limite nessa narrativa", explicou Bruzzi.

Apesar de se apresentar contra o isolamento social, Carlos Bolsonaro praticamente não fez campanha de rua. E, em determinado momento da campanha, em outubro, ele chegou a gravar um vídeo pedindo doações e dizendo que a eleição dele corria "risco".

"Infelizmente, nós só temos arrecadado até agora, por doações minhas e do meu pai, cerca de R$ 20 mil. Nossa eleição corre risco. Se fosse possível e fosse do desejo dos senhores que nos apoiassem fazendo a doação do que for possível dentro da realidade que todos nós estamos passando", disse Carlos, em um vídeo, ao pedir colaborações em uma vaquinha virtual.

Lives presidenciais foram impulsionadas

Entre os vídeos impulsionados, Carlos optou por pelo menos três em que o presidente Jair Bolsonaro, seu pai, pedia votos para ele. Em dois deles, os vídeos eram de lives do presidente dentro do Palácio da Alvorada pedindo votos para ele.

A coluna consultou o professor Marcelo Weick, coordenador-geral da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político, sobre o impulsionamento. Weick avalia que, como Carlos registrou os anúncios na plataforma, o candidato fez tudo correto. No entanto, há discussão sobre o comportamento de Jair Bolsonaro, independente do impulsionamento.

"Se ele está fazendo o vídeo isoladamente, ato de um apoiador, não gera a chamada conduta vedada. Você está gravando um depoimento de um apoiador. Mas a live (do presidente) é um espaço de divulgação das atividades governamentais. Ele está sempre com ministro do lado, com funcionário do governo de libras. Aquilo é projetado em rádios que são pagas com dinheiro do governo e pode ter uma publicidade institucional. Quando altera a finalidade da promoção institucional e faz atuação pessoal pode ser um desvio da finalidade da propaganda institucional", explica Weick.

Para ele, um desvio de finalidade pode, eventualmente, gerar uma discussão sobre improbidade administrativa.

Ao final da campanha, ele foi reeleito, mas teve uma redução de mais de 30% na sua votação em comparação com o ano de 2016.