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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Irritados com uso político, militares chamam Braga Netto de "Calabar"

Colunista do UOL

10/08/2021 12h49

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A postura do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, de dar respaldo ao uso político que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido-RJ) está fazendo das Forças Armadas segue causando divisões e irrita parte dos oficiais da ativa e da reserva. Braga Netto estava com o presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira (10) durante o desfile de blindados na frente do Palácio do Planalto, horas antes de a Câmara votar a PEC do voto impresso. Militares contaram à coluna que esses episódios fizeram com que, em alguns círculos, Braga Netto passasse a ser chamado de "Calabar".

Na época do Brasil Colônia, em área que hoje corresponde a Alagoas, o proprietário de terras Domingos Fernandes Calabar ficou conhecido na História por ter se aliado aos holandeses em oposição aos colonizadores portugueses em 1632. Por isso, popularmente, seu nome passou a ser associado à ideia de um "traidor".

Calabar, insatisfeito com o tratamento dos lusitanos, passou a usar sua proximidade com os colonizadores para obter informações e repassar os dados aos holandeses que queriam se instalar no Brasil e dominar a região. O plano deu certo por algum tempo, mas Calabar acabou descoberto. Após ser preso, em 1635, foi submetido a julgamento e acusado de "traição". Acabou condenado e foi enforcado. Além disso, teve seus restos mortais esquartejados e espalhados em praça pública.

No caso de Braga Netto, a ira de alguns colegas de farda está relacionada ao fato de que ele deveria proteger as Forças Armadas do uso político. Ao ceder às exigências do presidente Jair Bolsonaro, ele estaria "traindo" a missão constitucional.

O "apelido" associando o ministro a Calabar começou a circular depois das notas recentes do ministro Braga Netto. A primeira nota foi aquela na qual o ministro repudiou as críticas do presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz. Devido às investigações no Senado, o parlamentar fez acusações sobre o envolvimento de militares em esquemas de corrupção na compra de vacinas.

Além disso, contou também o episódio revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, de que Braga Netto enviou um recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PL-AL), informando que as eleições estariam ameaçadas sem o voto impresso. Na ocasião, o ministro negou o envio da mensagem, mas emitiu nota defendendo o voto impresso. A nota foi bastante criticada devido à interferência da Defesa em tema político que é, essencialmente, decidido pelo Congresso Nacional.