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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Ex-assessores de Carlos deram como endereço o apartamento de Jair Bolsonaro

Colunista do UOL

23/09/2021 17h36

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Dois ex-assessores do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) informaram na Câmara Municipal do Rio que moravam, em 2001, em um apartamento que estava, à época, em nome do agora presidente Jair Bolsonaro (sem partido-RJ). Os dois funcionários possuem parentesco com Ana Cristina Valle, segunda mulher de Bolsonaro, e moram no estado de Minas Gerais há pelo menos 20 anos. A coluna tentou contato com os ex-funcionários e o Palácio do Planalto, mas não obteve retorno.

Um dos casos é o da professora Marta Valle, cunhada de Ana Cristina. Ela foi nomeada como assessora de Carlos Bolsonaro em 1º de novembro de 2001. A professora foi exonerada em 1º de março de 2009. No entanto, ela sempre morou em Juiz de Fora, Minas Gerais, a cerca de 185 quilômetros do Rio de Janeiro. Em entrevista à revista Época, Marta admitiu que nunca trabalhou como assessora de Carlos Bolsonaro.

Nos "assentamentos funcionais" de Marta, na Câmara Municipal do Rio, ela declarou que seu endereço era "o apartamento 101, na rua Visconde de Itamarati, 142". O endereço era de um imóvel comprado por Jair Bolsonaro em 3 de abril de 1997. O apartamento custou R$ 90 mil e foi pago por meio de um cheque.

Nessa época, abril de 1997, Bolsonaro estava casado oficialmente com Rogéria Bolsonaro, mãe de Flávio, Carlos e Eduardo. No entanto, meses depois o casal se separou e, no ano seguinte, Bolsonaro foi morar nesse apartamento com Ana Cristina Valle, também já separada do primeiro casamento.

O outro assessor que declarou como endereço o apartamento de Bolsonaro é Gilmar Marques, ex-cunhado de Ana Cristina Valle. Marques é pai da filha da fisiculturista Andrea Valle, que é irmã de Ana Cristina. Ele foi nomeado como assessor de Carlos em 1º de março de 2001 e lá constou como funcionário até 1º de março de 2008. No entanto, Marques morou nas cidades de Rio Pomba, Juiz de Fora e Silveirânia, no estado de Minas Gerais, a aproximadamente 275 quilômetros de distância da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

As informações cadastrais dos ex-assessores de Carlos foram obtidas pelo MP-RJ nas investigações e relatadas ao juiz Marcello Rubioli, da 1ª Vara Criminal Especializada, do TJ-RJ. Os investigadores apuram a existência de rachadinha, entrega ilegal de salários dos assessores, e a nomeação deles como funcionários fantasmas.

A coluna mostrou em julho gravações de Andrea admitindo que ficava com apenas R$ 1 mil do seu salário e devolvia R$ 7 mil no período em que era assessora de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). Ela também contou que o irmão Andre Valle "nunca devolvia o dinheiro certo que tinha que devolver" e, por isso, Jair Bolsonaro mandou exonerar André de seu gabinete na Câmara dos Deputados.

Gilmar Marques, Marta, Andrea e André Valle agora são investigados pelo MP-RJ com outros ex-assessores de Carlos Bolsonaro. Os quatro, além de Carlos e Ana Cristina, tiveram o sigilo bancário e fiscal quebrado pelo TJ-RJ, a pedido do MP.

O jornal Folha de S. Paulo registrou anteriormente que Marta e Gilmar junto com Andrea e André também informaram em outros momentos na Câmara e para a Receita que o endereço deles era numa casa rua Professor Maurice Assuf, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

O endereço era de uma mansão que Bolsonaro e Ana Cristina compraram em 22 de novembro de 2002 por R$ 500 mil. Pouco antes, em 20 de setembro de 2002, Bolsonaro vendeu o apartamento na região do Maracanã por R$ 165 mil. Com a separação de Ana Cristina e Bolsonaro, entre 2007 e 2008, ele ficou com a mansão. O imóvel foi vendido por Bolsonaro em 2009 a R$ 1,1 milhão.

A coluna segue aguardando retorno dos ex-funcionários e do Palácio do Planalto. Gilmar Marques não foi localizado.