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Trump planta bomba-relógio eleitoral com pressão para reabrir escolas

Colunista do UOL

11/08/2020 10h14

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A pressão do presidente Donald Trump para que as escolas retomem as aulas em agosto é um erro estratégico que tende a prejudicar ainda mais a sua reeleição.

Há também o agravante das mentiras do presidente, que afirmou que as crianças são quase imunes e que não transmitem facilmente o coronavírus. Crianças adoecem e transmitem covid-19, apesar de pertencerem a um grupo etário com menor risco de mortes e sequelas.

Nas duas últimas semanas de julho, 97 mil crianças contraíram covid-19 nos EUA. Se essas crianças estivessem nas escolas, haveria uma superdifusão de casos para seus colegas, professores e familiares.

Não faz nenhum sentido pressionar pela reabertura das escolas nos estados do sul e do oeste americano, nos quais a pandemia apresenta um quadro alarmante.

O ritmo de crescimento de novos casos nos Estados Unidos está se estabilizando, mas num nível alto. Depois de chegar ao patamar de 60 mil casos por dia em julho, o começo de agosto tem apresentado números entre 45 mil e 55 mil casos diários. O país tem mais de 5 milhões de casos de covid-19 e superou as 163 mil mortes.

A maioria dos especialistas diz que não é seguro reabrir as escolas. Professores estão receosos. Pais hesitam entre mandar os filhos para as salas de aula ou mantê-los em casa.

Do ponto de vista eleitoral, a atitude de Trump só se explica pela estratégia de negar a gravidade da pandemia, o que tem sido um erro fatal. Segundo o presidente, a pandemia está sob controle nos EUA, a vacina está chegando logo, o vírus irá embora de repente, só há mais casos porque se testa mais, ele fez um trabalho formidável etc. Tudo mentira.

Ora, é evidente que Trump está plantando uma bomba-relógio que poderá explodir em setembro, mês dos debates presidenciais, e em outubro, na reta final para as eleições de 3 de novembro.

O democrata Joe Biden não precisa fazer campanha. Basta deixar Trump continuar executando a sua resposta errada e irresponsável à pandemia. A eleição tende a ser decidida como se fosse um referendo sobre a forma como o presidente enfrenta o coronavírus. Dois terços dos americanos reprovam o modo como o presidente lida com a covid-19.

Os números de pesquisas recentes são muito bons para Biden. Ele tem dianteira no voto nacional e nos estados decisivos para formar maioria no
Colégio Eleitoral.

Até em estados como a Geórgia e a Carolina do Norte, fortalezas republicanas nas últimas eleições, o democrata passou a ter vantagem ou a empatar com Trump em alguns levantamentos. Nesse contexto, a cruzada do presidente contra o voto pelo correio, sugerindo diariamente que haverá fraudes em massa e que o resultado será manipulado, soa como uma desculpa para uma derrota que se avizinha.