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Datafolha mostra Bolsonaro no lucro: desgoverna o Brasil e tem quem aplauda

Reprodução/Facebook/Jair Messias Bolsonaro
Imagem: Reprodução/Facebook/Jair Messias Bolsonaro

Colunista do UOL

14/12/2020 11h15

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Em geral, os governantes que enfrentaram a pandemia de coronavírus com realismo político e seguindo os preceitos da ciência acabaram melhorando a sua popularidade perante a população.

Há dois casos clássicos no planeta de presidentes que jogaram fora essa oportunidade: Donald Trump e Jair Bolsonaro. A negligência homicida tem sido a marca dos dois presidentes, que se comportam como genocidas ao negar a ciência e não apresentar um plano nacional de combate à covid-19.

Trump perdeu a reeleição.

Bolsonaro celebra uma pesquisa Datafolha que revela que a maioria dos entrevistados não o responsabiliza pelas mais de 181 mil mortes por coronavírus no Brasil.

Segundo o Datafolha, 52% dos entrevistados afirmam que Bolsonaro não tem nenhuma culpa pelas mortes por coronavírus. Para 38%, ele é um dos culpados. Apenas 8% dizem que ele é o principal responsável pelas fatalidades.

É uma boa notícia para Bolsonaro conseguir transmitir a imagem de que não tem nada a ver com as altas cifras de doentes e mortes por covid-19 no Brasil. A principal culpa por esses dados alarmantes é dele, sim.

Mas a normalização dos crimes e absurdos presidenciais ajuda a encobrir a sua responsabilidade pela tragédia sanitária, que é mais grave no Brasil devido à sua resposta à crise como presidente.

Para felicidade de Bolsonaro, ele ainda se beneficiou de uma medida que resistiu a adotar e que só saiu no formato atual por obra do Congresso Nacional: o auxílio emergencial.

Esse auxílio contribuiu para que o presidente obtivesse mais compreensão de camadas menos escolarizadas e de menor renda da população enquanto perdia cacife entre os mais escolarizados e de maior renda.

Os fatores auxílio emergencial mais a normalização de uma conduta irresponsável explicam o desempenho de Bolsonaro no Datafolha. Ele está no lucro.

É um governante que classificou a covid-19 como uma "gripezinha" que assustava "um país de maricas". Fugiu de suas responsabilidades ao dizer que não era "coveiro". Houve o tal episódio do "e daí?", que pode ser traduzido como "não estou nem aí".

Recentemente, com número de casos, internações e mortes em alta, Bolsonaro enxergou o "finalzinho da pandemia".

A lista segue: ele dinamitou dois ministros da Saúde para instalar um sabujo incompetente no comando da pasta; promove aglomerações sem pudor; tira credibilidade de eventual vacina, desestimulando as pessoas a se imunizar quando for possível; dá maus exemplos em série sobre o uso da máscara; Com frequência, comete crimes de responsabilidade debaixo das barbas das instituições, e acaba incomodado apenas por "notas de repúdio".

Em condições normais de temperatura e pressão, a condução da Presidência como "negócio de família" já teria rendido uma eventual tramitação de um pedido de impeachment no Congresso. O uso da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para tentar salvar o filho e senador Flávio Bolsonaro de acusações de corrupção é prática corrente do atual governo. Mas não acontece nada.

Ora, assim sai barato Bolsonaro ser o que é. A normalização de um bárbaro genocida só foi possível porque desde 2018 não foram dados os nomes aos bois. A omissão de muitos é o que premia Bolsonaro e aprisiona o Brasil nesse pesadelo. A História cobrará um dia.