Topo

Leonardo Sakamoto

Coronavírus mata 359 e 33% do país ainda aprovam comportamento de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) - Andressa Anholete/Getty Images
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) Imagem: Andressa Anholete/Getty Images

Colunista do UOL

03/04/2020 18h56

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O Datafolha trouxe uma má notícia para a vaidade de Bolsonaro e uma boa notícia para a sua situação política. Se por um lado mostra que a aprovação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na condução da crise do coronavírus é humilhantemente maior que a do chefe (76% a 33%), por outro aponta que sua aprovação se manteve.

Um dos principais motivos é que a quantidade de óbitos por dia no Brasil - que chegou a 60, nesta sexta (3) - ainda não é similar às catástrofes na Itália, Espanha, França, Reino Unido e, principalmente, Estados Unidos. Entre as noites de quarta e quinta, os EUA registraram 1169 mortes, batendo o recorde de óbitos em um mesmo dia que, até então, era da Itália (969). Mas o próprio governo informou que há subnotificação de mortos e infectados (hoje, em 9056) e que isso será corrigido em breve.

Mandetta saltou de 55% de aprovação na pesquisa Datafolha divulgada no dia 23 de março, para 76%, na nova rodada de consulta sobre a posição da população, tornada pública hoje. A avaliação dos governadores também melhorou, indo de 54% para 58% - fora da margem de erro de três pontos para cima ou para baixo. Enquanto isso, a aprovação da atuação do presidente saiu de 35% para 33%, ou seja, uma situação de estabilidade.

A reprovação subiu de 33% para 39%. Vale lembrar que o governo ainda não liberou a renda básica aprovada pelo Congresso de R$ 600,00 para pobres e informais e a carência vai começar a bater em muitos lares.

As avaliações do ministro da Saúde (43 pontos percentuais acima de Bolsonaro) e dos governadores (19 pontos acima) ganharam destaque nas manchetes, mas o terço de apoio a ele também é fato importante. O número é semelhante à quantidade mínima de pessoas que aprovam seu governo, de acordo com os principais institutos de pesquisa. Há uma base de apoio na classe média baixa que ainda não está no centro da pandemia.

Os resultados demonstram contradição. Apesar da posição de Mandetta ser oposta à de Bolsonaro, há aqueles que aprovam um e outro ao mesmo tempo. Talvez apoiem o presidente por tê-lo escolhido como ministro. Ou não compreendem o que ele diz.

À medida em que o número de mortos avançar, cada família tiver um parente ou um amigo que morreu por conta da Covid-19 nas grandes cidades, e os hospitais entrarem em colapso, a tendência é acelerar a velocidade na queda da aprovação. Pois aumentará a parcela que avalia que a atuação do presidente tem contribuído para a perda de vidas. Por enquanto, o Datafolha aponta que, para 40%, Bolsonaro mais ajuda que atrapalha, enquanto 51% dizem que ele mais atrapalha que ajuda.

O piso de seu governo deve ser os 12% dos brasileiros que compõem o núcleo duro de entusiastas de Bolsonaro - dado apontado pelo Datafolha, em setembro do ano passado. É o naco que votou nele nas eleições, aprova seu governo, confia em suas declarações e acredita que ele se comporta como presidente em todas as situações e que seus filhos mais ajudam que atrapalham o governo.

Ou seja, se tiverem um parente que vier a falecer por Covid-19, culparão o PT e o comunismo.

O problema é que, para manter os 12% ao seu lado, Bolsonaro tem que agir como um lunático. E para garantir aqueles 20% que o apoiam, apesar de não aprovarem todos os seus comportamentos, tem que agir de forma minimamente racional. O que inclui parar de fazer guerra contra quem está trabalhando no país, o que contraria sua natureza bélica - uma das razões de ser amado pelos 12%.

Ao mesmo tempo, se derreter da casa dos 30% para os 12%, Rodrigo Maia abre a torneira do impeachment. Ou o procurador-geral da República, Augusto Aras, toma coragem de processá-lo por atentar contra a saúde pública.

Enquanto isso, o presidente Donald Trump tem visto sua popularidade subir nos Estados Unidos diante de uma mudança de comportamento. Se antes, menosprezava a pandemia, agora vem tentando se mostrar um estadista, liberando recursos, comprando insumos, erguendo hospitais, buscando ser transparente ao público.

De olho nas eleições presidenciais previstas para novembro, pôs se a agir. Uma reportagem do jornal The New York Times apontou que isso vem surtindo efeitos, inclusive entre eleitores democratas. É a simpatia pelo governante que age em tempos de ataque de um "inimigo externo" - que pode ser um país, um grupo terrorista ou um vírus. Se a oposição de lá será bem-sucedida em lembrar aos eleitores que ele fez pouco caso da Covid-19, o que atrasou a preparação dos EUA para a pandemia, facilitando óbitos, só o tempo dirá.

Bolsonaro preferiu não seguir o caminho de seu ídolo. Pelo contrário, com medo de ser ejetado da cadeira presidencial por conta da recessão econômica que se aproxima de um Brasil em quarentena parcial, ele tenta forçar a retomada das atividades. É amparado por um pequeno naco de grandes empresários incapaz de sentir empatia.

A rota que escolheu nos leva ao abismo. A questão é o caminho até lá, se um declive suave ou barranco.

Bolsonaro, se tiver sorte, vai se tornar um presidente decorativo. Mas a depender da montanha de mortes que ocorrer com o coronavírus, sairá no lucro se sofrer apenas o impeachment.