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Leonardo Sakamoto

Crítico da apreensão de celular, Bolsonaro a celebra quando atinge Witzel

Presidente Jair Bolsonaro, o filho Flávio Bolsonaro e o governador do RJ, Wilson Witzel - Pedro Ladeira/Folhapress
Presidente Jair Bolsonaro, o filho Flávio Bolsonaro e o governador do RJ, Wilson Witzel Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Colunista do UOL

26/05/2020 12h52

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"Parabéns à Polícia Federal. Fiquei sabendo agora pela mídia. Parabéns à Polícia Federal, tá ok?", afirmou o presidente Jair Bolsonaro sobre operação "Placebo". Deflagrada na manhã desta terça (26), ela investiga o desvio de recursos públicos que seriam destinados ao atendimento do caos sanitário causado pelo coronavírus. Um dos objetivos era verificar o envolvimento de Helena Witzel, esposa de seu adversário político, o governador do Rio, o que levou a uma operação de busca e apreensão no Palácio das Laranjeiras.

O histórico, contudo, mostra que a efusividade do presidente Jair Bolsonaro quanto ao funcionamento do sistema de Justiça depende do alvo da operação. Quando o alvo são seus filhos, Bolsonaro é outro.

No dia 24 de janeiro do ano passado, por exemplo, em entrevista à TV Record, afirmou que "não é justo atingir um garoto, fazer o que estão fazendo com ele, para tentar me atingir." Ele se referia a investigação sobre o filho, o senado Flávio Bolsonaro, então com 37 anos.

O "garoto" está sendo investigado pelo Ministério Público por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa em meio à ação que gira em torno do faz-tudo da família, Fabrício Queiroz. O foco seriam os desvios de recursos públicos de seu gabinete como deputado estadual do Rio. Queiroz organizaria um esquema de "rachadinhas" dos salários dos servidores públicos que trabalhavam para os Bolsonaros.

A estrutura montava incluiriam lavagem de dinheiro com imóveis e loja de chocolates e até o envolvimento indireto de um dos líderes do Escritório do Crime - grupo de matadores de aluguel no Rio. No dia 16 de maio do ano passado, manteve o mesmo estilo de justificativa e disse, em entrevista nos Estados Unidos, que "desde o começo do meu mandato, o pessoal está atrás de mim o tempo todo, usando a minha família".

As reclamações se transformaram em interferência política, segundo acusação de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça. No já icônico vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, divulgado por autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, em meio a inquérito que analisa se o presidente interveio na instituição em nome de suas necessidades pessoais, ele reclama: "não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações".

E vai além: "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira".

Na entrevista que concedeu, na porta do Palácio do Alvorada, no dia 22 de maio, após o vídeo da reunião vir à público, reafirmou o conteúdo: "O tempo todo vivendo sob tensão, possibilidade de busca e apreensão na casa de filho meu, onde provas seriam plantadas. Levantei isso, graças a Deus tenho amigos policiais civis e policiais militares do Rio de Janeiro, que isso tava sendo armado pra cima de mim."

O governador Wilson Witzel divulgou nota afirmando que "a interferência anunciada pelo presidente da República está devidamente oficializada".

Celular

Na operação desta terça, parabenizada pelo presidente, a Polícia Federal apreendeu o aparelho de celular e o computador do governador com autorização do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça.

Diante de um pedido de apreensão de celulares de Bolsonaro e de seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, feito pelo PDT, PSB e PV, como parte de uma notícia-crime protocolada no Supremo Tribunal Federal, a decisão foi enviada para o procurador-geral da República, Augusto Aras. A apreensão não havia sido determinada pelo PGR, mesmo assim o presidente encarou a tomada de um aparelho de um chefe do Poder Executivo no âmbito de uma investigação de uma maneira diferente.

"Está na cara que jamais entregaria meu celular. Estaria, sim sendo criada uma crise institucional. A troco de quê? Qual o próximo passo, dar uma canetada e falar que eu não sou mais presidente? Alguém está achando que eu sou um rato para entregar um telefone meu em uma circunstância como essa? Pelo amor de Deus, somos três Poderes independentes e ponto final, cada um ter que saber o seu limite", afirmou em entrevista à rádio Jovem Pan.