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Leonardo Sakamoto

Corticóide não previne covid e tem efeitos colaterais, alerta especialista

Cemitério em Manaus, uma das capitais mais afetadas pelo coronavírus no Brasil                              - MICHAEL DANTAS/AFP
Cemitério em Manaus, uma das capitais mais afetadas pelo coronavírus no Brasil Imagem: MICHAEL DANTAS/AFP

Colunista do UOL

16/06/2020 17h42

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A dexametasona, um tipo de corticóide (medicamento com efeito anti-inflamatório) se tornou um dos trending topics, nesta terça (16), após um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, ter apontado que ele reduziu mortes em pacientes de covid que dependiam de ventilação mecânica ou oxigênio e, portanto, quadros mais graves. O estudo inglês vai ao encontro de outros que vêm sendo realizados pelo mundo e os resultados animaram médicos e especialistas.

Contudo, como o remédio é barato e pode ser encontrado facilmente, o temor de especialistas é que haja uma corrida às farmácias, levando a uma nova onda de automedicação, como ocorreu com a cloroquina.

"Não saia tomando corticóide para combater ou prevenir o coronavírus. Primeiro, porque não há indícios de que ele contribui para quadros leves da doença. E, segundo, porque a droga também produz efeitos colaterais. Caso esteja com sintomas, procure um médico que vai te avaliar." A recomendação é de André Nathan, médico da equipe de pneumologia do Hospital Sírio-Libanês que vem pesquisando o emprego de corticóides em pacientes em estado grave por covid-19.

"Corticóide, além de impactar na pressão e na diabetes, é um imunossupressor, reduz a defesa do corpo. Quem incorrer no erro de tomar o produto de forma preventiva, pode estar, portanto, ajudando a fragilizar as barreiras que impediriam a entrada do coronavírus no organismo ou ajudando à doença a ficar mais forte", afirma.

Em outras palavras, se consegue respirar sem a ajuda de aparelhos, esse remédio não é para você.

Nathan explica que, no começo deste ano, havia sido publicado um trabalho relacionando o emprego da dexametasona no aumento da sobrevida de pacientes com síndrome de desconforto respiratório agudo. Quando o coronavírus se tornou uma pandemia, grupos de pesquisa resolveram analisar a relação da dexa com a covid.

De acordo com o médico e pesquisador, os dados divulgados por Oxford são importantes e os pesquisadores, sérios. Mas o resultado ainda não foi publicado em revista científica e, portanto, não passou pela análise crítica de seus pares cientistas.

Entre os grupos de pesquisa que vêm estudando o uso da dexametasona, há uma rede de hospitais brasileiros, que conta com Sírio-Libanês, Albert Einstein, Moinhos de Vento, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, entre outros. Os resultados no Brasil também apontam que a medicação representa uma melhora para pacientes com covid-19 que necessitem de ajuda para respirar.

Vale lembrar que a doença causa uma resposta exacerbada do corpo e o medicamento reduz a consequente "tempestade imunológica" no paciente.

"A adoção do medicamento para pesquisa e o uso compassionado [quando o paciente está em estado grave e buscam-se alternativas para sua sobrevivência] já acontecia no Brasil. Temos boas respostas clínicas, mas o estudo aqui não terminou", diz André Nathan.

"A impressão dos médicos que usam em seus pacientes é, contudo, positiva e os estudos estão validando isso do ponto de vista científico."

Ele ressalta que não é possível afirmar que a dexametasona poderá ser adotada em casos mais leves. "Estes tendem a ser curados pelo próprio organismo, sem a necessidade de medicamentos", conclui.