Bolsonaro ajuda Weintraub a fugir e prova usar governo para proteger amigos
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O presidente Jair Bolsonaro ajudou Abraham Weintraub a fugir do país. Não há outra forma para explicar o que aconteceu.
O Ministério da Educação confirmou ao UOL que ele chegou, neste sábado (20), a Miami em um voo comercial. A informação também foi divulgada nas redes sociais por seu irmão, Arthur, assessor especial da Presidência da República. Apenas depois de chegar aos Estados Unidos é que ele foi formalmente exonerado do MEC por Bolsonaro através de uma edição extra do Diário Oficial da União.
Com isso, teve tempo de usar o passaporte diplomático, com o qual contava, para ingressar no país. O Tio Sam havia proibido a entrada de estrangeiros que tivessem pisado no Brasil devido ao temor que o descontrole da pandemia por aqui prejudicasse a contenção do coronavírus por lá. Mas, com o documento, esse bloqueio não o atingiu.
Abraham Weintraub foi indicado pelo governo para assumir uma cadeira na direção-executiva do Banco Mundial, em Washington DC. Bolsonaro não procurava apenas uma saída honrosa para um de seus aliados mais fiéis, mas também uma forma de protegê-lo. Pelo visto, o pacote incluiu também a garantia de saída rápida do país.
Weintraub havia dito que passaria o bastão para o próximo responsável pela cadeira. E não havia ordem de prisão decretada pela Justiça contra ele, apesar dos pedidos de parlamentares para que isso acontecesse. Contudo, não pagou para ver e correu. "A prioridade total é que eu saia do Brasil o quanto antes. Agora é evitar que me prendam, cadeião e me matem", havia dito à CNN Brasil nesta sexta (19). No dia seguinte, já estava postando a partir de Miami, segundo sua conta no Twitter.
E não será surpresa se ele se vender como asilado político, dizendo que fugiu para não ser punido por suas ideias - quando era ele que estava, até pouco tempo atrás, perseguindo e ameaçando estudantes, professores, pesquisadores, ministros da STF. É como o covarde que lidera o espancamento de uma pessoa e quando a polícia chega para levá-lo à delegacia, chora e diz que está sendo vítima de uma injustiça.
"A utilização do passaporte diplomático de ministro foi ilegal, além de imoral. É desvio de finalidade. Como fugitivo internacional que é, Weintraub deve ser deportado ao Brasil e ser preso", afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O ex-ministro é alvo do inquérito que apura ataques ao STF (defendeu a prisão dos membros da corte) e de outro, que apura racismo contra cidadão chineses.
Esse tipo de ação por parte de Bolsonaro segue padrão semelhante ao da interferência na escolha do diretor-geral da Polícia Federal: o de utilizar as instituições da República para as suas necessidades. Passaporte diplomático não deveria ser usado para proteger interesses de amigos, mas sim para o exercício de funções de interesse ao país.
"Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus", disse Bolsonaro na já icônica reunião ministerial de 22 de abril, que foi divulgada pelo Supremo Tribunal Federal após o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, apontá-la como indício da tal interferência. O presidente reclamava da falta de informação por parte da Polícia Federal para proteger os seus, dizendo que trocaria quem fosse preciso para consegui-la.
"Não estamos aqui pra brincadeira", reforçou. Como se tivéssemos qualquer dúvida disso.
PF, Coaf, Receita Federal, Procuradoria-Geral da República, Ibama, Incra, ICMBio, Funai, Ministério das Relações Exteriores. Jair Bolsonaro, desde que assumiu o cargo, vem atuando para sujeitar instituições em nome de seu projeto de poder. Sua preferência é por órgãos de monitoramento, fiscalização e controle. Mas não se atém a eles, como a subversão das ferramentas diplomáticas mostrou na manhã de hoje.
Ele afirma governar com base no "desejo popular", contanto, claro, que ele defina o que seria isso. Diz que combate a corrupção, mas tenta nublar qualquer investigação que analise evidências de práticas irregulares por parte dele, de seus aliados e de sua família - como, por exemplo, o desvio de recursos públicos pelo senador Flávio Bolsonaro, quando ainda era deputado estadual, que usou um Queiroz como aríete.
O projeto de país do clã é um governo populista autoritário apoiado por setores da extrema-direita da população e parte do empresariado. Nesse plano, a maioria das instituições são domesticadas e servem ao presidente. Parte do Congresso vem sendo adquirido, a prestações, pela concessão de cargos. E as que não podem ser domesticadas, são consideradas inimigas: o Supremo Tribunal Federal vem sendo alvo de pedidos de fechamento por parte de seguidores fanáticos do presidente desde o ano passado. Bolsonaro chegou ao despautério de discursar em atos que exigiam um novo Ato Institucional número 5 e um golpe militar.
Dessa forma, a República vai sendo dobrada às necessidades de uma família e seus aliados. Se nada for feito urgentemente, algumas instituições se tornarão cúmplices disso da mesma forma que Bolsonaro foi cúmplice na escapada de Weintraub.
Em tempo: falando em fugas de aliados do governo, onde está a foragida Márcia Oliveira de Aguiar, esposa de Queiroz?