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Leonardo Sakamoto

Defender "intervenção militar" é ver em Bolsonaro um líder fraco e incapaz

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em ato em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em ato em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Colunista do UOL

28/06/2020 16h50

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Cerca de 100 seguidores de Jair Bolsonaro fizeram uma manifestação, neste domingo (28), pedindo golpe em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília. "Nós exigimos intervenção militar já com Bolsonaro no poder", "Tribunal militar para julgar e prender todos os comunistas", "Intervenção militar para Bolsonaro governar".

Sabemos que o presidente da República vê esse tipo de apoio com bons olhos, tendo já discursado em atos que clamavam por um novo Ato Institucional número 5 (que, em dezembro de 1968, deu poder para a ditadura fechar o Congresso, estabelecer censura, cacetar geral) e a prisão de membros do Supremo Tribunal Federal.

Acuado pela investigação sobre Fabrício Queiroz e seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, por roubo de dinheiro público e também pelo inquérito sobre a rede de fake news que atingiu seus aliados próximos, o presidente interrompeu suas participações nos atos. Por enquanto.

Aliás, um pequeno cartaz onde se lia "AI-5" foi encontrado em cima da lareira da casa do ex-advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, em Atibaia, onde Queiroz estava escondido. Não deixa de ser paradigmático que, mesmo à distância, o ex-assessor se conectasse aos manifestantes que, semanalmente, iam beijar a mão de Jair.

Os seguidores acreditam que Bolsonaro não consegue cumprir suas promessas de campanha por conta de uma suposta interferência dos Poderes Legislativo e Judiciário e da sociedade civil - vistos por eles, de forma psicodélica, como um antro de comunistas. Mas, de forma colateral, os cartazes reconhecem a incompetência de seu líder para avançar em suas pautas.

O presidente não consegue avançar, em parte, porque as promessas ferem a Constituição e a dignidade de uma parcela dos cidadãos e, com isso, é democraticamente contido (às vezes, só às vezes) pelas regras do jogo. Mas também porque não sabe governar.

Se fosse alguém mais equilibrado emocionalmente e competente politicamente, uma parcela maior dos direitos obtidos desde a redemocratização já teria ido para o vinagre. Por que uma parte do poder econômico elegeu Bolsonaro pouco se importando se o presidente implementaria uma ideologia de extrema-direita, excludente e violenta, desde que lucrasse com sua gestão. Tanto que, durante a pandemia, não foram poucos os empresários que deram declarações eugenistas sobre a morte de pobres e o coronavírus.

Como nunca precisou dialogar nos 28 anos em que permaneceu no parlamento, o presidente não sabe criar canais de construção junto ao Congresso. Teve que sair às compras de deputados e senadores através da concessão de cargos e garantir uma proteção - ainda que frágil - contra um processo de impeachment. Não é que dividiu poder. Entregou chaves de cofres.

Ao mesmo tempo, não sendo apto a liderar o enfrentamento nacional à pandemia de coronavírus, o que incluiria a articulação de outros poderes e entes da federação em um plano nacional, passou a defender uma política de terra arrasada, terceirizando a responsabilidade por mortos e desempregados a prefeitos, governadores e ministros do STF.

Quando fãs de Bolsonaro defendem que ele vire a mesa no meio do jogo para facilitar a vida do seu líder, acabam passando a mensagem de um presidente incapaz de encontrar o caminho do governo dentro das regras do jogo. Regras que ele aceitou ao concorrer para o cargo que hoje ocupa.

Faixas como essas, portanto, são declarações de apoio incondicional, mas também o reconhecimento de que eles acham, lá no fundo, que o governante pode agir como uma criança que, ao estar perdendo uma partida de War ou Banco Imobiliário, simplesmente dá um soco na mesa e joga as pecinhas para o ar.

Precisar da interferência de alguém armado para fazer valer sua vontade fora das regras do jogo é coisa de fracote. Precisar da ajuda de "juristas" que fazem contorcionismo técnico e moral para defender que a interferência de alguém armado faz parte da regra do jogo é ser duplamente fracote.

Contar com a ajuda de alguém armado para fazer sua vontade política é fácil, qualquer um consegue. Difícil é vencer através das regras, por sua própria capacidade. Isso não separa apenas os presidentes dos ditadores, mas também os líderes daquela escória que será, com o tempo, relegada ao esgoto da História.