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Leonardo Sakamoto

Nulo contra a covid, Bolsonaro diz que máscara tem eficácia "quase nula"

18/03/2020 - O presidente da República, Jair Bolsonaro, se atrapalha ao recolocar máscara no rosto durante entrevista coletiva à imprensa sobre as medidas de combate ao novo coronavírus em Brasília (DF) - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
18/03/2020 - O presidente da República, Jair Bolsonaro, se atrapalha ao recolocar máscara no rosto durante entrevista coletiva à imprensa sobre as medidas de combate ao novo coronavírus em Brasília (DF) Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

19/08/2020 22h37

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Jair Bolsonaro afirmou que a eficácia da máscara na prevenção ao coronavírus é "quase nula" a um grupo de fãs, na porta do Palácio do Alvorada, nesta quarta (19).

O presidente respondia a uma seguidora que disse que só tiraria fotos com ele quando não precisasse mais usar o equipamento. Depois, ainda repetiu para quem tivesse ficado com dúvida: "eficácia quase nula". Incentiva, dessa forma, que os brasileiros não se protejam no dia em que ultrapassamos o registro de 111 mil mortos pela covid.

Não surpreende que Bolsonaro minta sobre a importância fundamental do uso de máscaras para prevenir a infecção pela doença - qualquer pedaço de tecido barato com elásticos tem um papel mais relevante que o dele para salvar brasileiros.

Mas isso é uma demonstração irônica de falta de empatia, pois a maioria das pessoas não têm babás como ele e veem nas máscaras uma das únicas formas que contam para se proteger. Pois são baratas de se fazer e acessíveis. Avança, dessa forma, sobre a única forma que famílias pobres que estão sendo obrigadas a sair de casa para trabalhar têm de tentar alguma proteção contra a doença.

Nula é, portanto, a efetividade de suas ações. Mas se analisarmos o seu comportamento em si, veremos que ele não foi nulo, jogou contra. Agiu como aliado do vírus, não da população.

Bolsonaro executa uma campanha sistemática de desinformação sobre a covid-19. Ele mente ao dizer que quarentenas não funcionaram para retardar a propagação do vírus. Mente ao afirmar que o isolamento social não funcionou. Mente ao chamar uma pandemia assassina de "gripezinha" e "resfriadinho". Mente ao defender que a hidroxicloroquina deve ser usada no tratamento da doença mesmo com provas de que ela não funciona. Mente ao cravar que a crise econômica causava pelo vírus mata tanto quanto ele próprio. Mente ao dizer que o Supremo Tribunal Federal afirmou que são prefeitos e governadores os únicos responsáveis pela política contra a covid quando a corte não disse isso. Mente ao falar que não poderia ter feito nada diferente e que a morte é o destino de todos.

Seu mau exemplo não ficou apenas em declarações bizarras e orientações fajutas. Ele causou danos à saúde pública através de suas ações. Como as aglomerações que causava em dias de manifestações a favor de um autogolpe militar e do fechamento do Congresso Nacional e do STF. Inspirados no presidente, muitos brasileiros relativizaram a importância de se cuidar e, ao fazer isso, passaram adiante o vírus a quem não tinha nada a ver com a história. Resultado: mais mortes.

O presidente, ao contar essa mentira, comete um crime contra a saúde pública. Mais um. Mas quem vai fazer algo? O procurador-geral da República? Aliado de Bolsonaro, acabará dizendo que isso é mera "opinião" do presidente. Uma parte do Congresso Nacional? Está mais ocupada dividindo cargos no governo federal. O Supremo sozinho não vai dar conta, mesmo assim, não impediu que ele continuasse a fazer estragos a favor da covid.

Diante disso, resta à população cuidar de si mesma, fazendo nulas as palavras do presidente nulo e, sim, usando máscaras.