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Leonardo Sakamoto

Bolsonaro tem razão: Brasil é o país que mais preserva. Mas é a cara de pau

Perto do Poconé (MT), o fotógrafo encontrou uma jaguatirica na estrada; ?Ela morreu fugindo?, lhe disse o motorista que observava a cena ao seu lado - João Paulo Guimarães/Repórter Brasil
Perto do Poconé (MT), o fotógrafo encontrou uma jaguatirica na estrada; ?Ela morreu fugindo?, lhe disse o motorista que observava a cena ao seu lado Imagem: João Paulo Guimarães/Repórter Brasil

Colunista do UOL

17/09/2020 19h50

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Quando Jair Bolsonaro afirma e repete que somos "o país que mais preserva o meio ambiente", ele quer enganar os desinformados, excitar seus fãs, irritar o naco racional da sociedade e construir uma "verdade alternativa" Made in Brazil para ser exportada como subproduto de sua guerra cultural.

Na prática, sabe que sua gestão está completando um grand slam do fogo, com quatro biomas - Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica - ardendo, ao mesmo tempo, em incêndios criminosos provocados por grileiros e produtores rurais.

Sabe, mas a resposta dele e de sua equipe é encontrar novas formas de mentir e esconder a própria responsabilidade. Fuga acima de tudo, covardia acima de todos. Ou como diria o grande filósofo Al Bundy: só é trapaça se te pegam.

"É uma mentira essa história de que a Amazônia arde em fogo", afirmou no dia 11 de agosto. Não importam fotos e vídeos da floresta queimando, imagens de satélites com milhares pontos de calor comendo a região e relatos do inferno colhidos de indígenas, ribeirinhos e moradores de cidades. Ele disse textualmente que "a floresta não pega fogo".

Já culpou indígenas, ONGs e até o Leonardo DiCaprio por queimadas. Disse que tinha a "convicção" de que os dados de desmatamento (que saltaram no ano passado e neste ano) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais eram mentirosos e acusou o então presidente do órgão, o cientista Ricardo Galvão, de estar "a serviço de alguma ONG". A culpa é sempre de um complô externo quando é ele que conspira a céu aberto contra o meio ambiente, os brasileiros e o clima do planeta.

Bolsonaro aposta que a construção da realidade não brota de fatos, mas de seu gogó. E, em sua narrativa, o salvo-conduto que ele entregou a madeireiros, garimpeiros, grileiros e pecuaristas ilegais não se traduz em salto nos índices de desmatamento e em queimadas. Por que são todos cidadãos de bem.

Além de toda tragédia natural e humana que vem sendo noticiada, vale lembrar que ainda estamos vivendo uma pandemia que atinge em cheio o aparelho respiratório. Esta época do ano já seria uma tragédia em hospitais. Agora, mais pessoas vão morrer pela mistura de covid e queimadas. Ele dirá que é só tomar cloroquina. Ou que todo mundo morre um dia.

Há uma chance de grandes cidades do Sudeste presenciarem chuva escura com céu apocalíptico neste final de semana por conta da correntes de fumaça encontrando-se com nuvens de chuva. Bolsonaro dirá que é Photoshop.

O presidente também disse, nesta quinta (17), que somos o país "que mais sofre ataques vindos de fora no tocante ao meio ambiente". Nisso, concordamos. O que não diz é que os ataques são, em sua maioria, justificados. O mundo vê com tristeza a derrocada de um país, que já tentou liderar o desenvolvimento sustentável. Uma nação que vai se perdendo com um biocida no timão.

E não é qualquer biocida, mas um que gosta de queimar dinheiro.

O mérito pelo mundo civilizado nos olhar com nojo e irritação, neste momento, inteiramente dele. Ou seja, no tocante à culpa pela tragédia, vai que é tua, Jair.