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Leonardo Sakamoto

PF quer saber se foi burrice ou má fé governo federal bancar sites pró-AI-5

Bolsonaro discursa em ato em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília - EVARISTO SA/AFP e Getty Images
Bolsonaro discursa em ato em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília Imagem: EVARISTO SA/AFP e Getty Images

Colunista do UOL

18/09/2020 12h36

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A Polícia Federal investiga indícios de que o governo Bolsonaro financiou páginas e pessoas que propagaram manifestações contra a democracia e pelo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal na internet. Relatório parcial, revelado pelo jornal O Globo, aponta envolvimento do Palácio do Planalto através de publicidade oficial.

"A investigação tem o objetivo de checar se essa ocorrência se deu por culpa ou por ação ou omissão deliberada de permitir a adesão da publicidade do governo federal, e a consequente monetização, ao conteúdo propagado", escreveu a delegada Denisse Ribeiro, que cuida do caso, de acordo com reportagem de Bela Megale e Aguirre Talento.

Traduzindo: a PF quer saber se o governo Jair Bolsonaro foi burro o bastante para colocar, por engano, dinheiro público em páginas que promoviam atos que pediam um novo Ato Institucional número 5. Ou foi apenas criminoso para fazer isso de forma consciente e objetiva.

Pois as mesmas ferramentas usadas para evitar a presença de propaganda do governo federal em sites que promovem a pedofilia também podem ser empregadas para evitar anúncios naqueles que incentivam o ataque a instituições da República. Não é feitiçaria, é tecnologia.

Considerando isso, a equipe do governo pode ter sido incompetente, o que é grave, ou deliberadamente criminosa, o que comprovaria que a sede do Poder Executivo se tornou a festa da fruta.

Acusado de manter um "Gabinete do Ódio" nas instalações do Palácio do Planalto para difundir desinformação e atacar críticos ao seu governo, Bolsonaro já havia promovido atos golpistas com sua participação ou com postagens de apoio em redes sociais.

No dia 19 de abril, o presidente discursou em uma manifestação que pedia um AI-5, em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília. Sendo que, no dia 15 de março, ele já havia se dirigido, com carinho, a uma multidão que pedia golpe militar e fechamento do Congresso Nacional e gritava "AI-5! AI-5! AI-5!" em frente ao Palácio do Planalto.

Confirmando-se o financiamento da publicidade de atos antidemocráticos, o presidente sobe mais um degrau em sua escada de crimes de responsabilidade.

Há várias formas de atacar a República. O desmonte nas instituições de monitoramento e controle que Bolsonaro tem realizado cuidadosamente é outra delas. Com isso, já digeriu o Coaf, a Receita Federal, a Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República, o Incra, a Funai, o ICMBio, o Ibama. A terra arrasada gerada por seu governo nessas duas últimas podem ser comprovadas do espaço, através das chamas que consomem o Pantanal e a Amazônia.

Com o crescimento de sua popularidade causada pelo auxílio emergencial, a aquisição do apoio do Centrão no Congresso Nacional e sua proximidade com o procurador-geral da República, não se vislumbra a possibilidade, no curto prazo, de um processo por crime de responsabilidade ter sucesso.

Isso não significa que não dê azia, angústia e vergonha vermos indícios de que o presidente da República queimou a Constituição.

O esgarçamento institucional, resultado disso, é irreparável. Além de uma montanha de mortes pela covid e desemprego, Bolsonaro vai entregar uma democracia menor quando sair. Se sair, é claro.