Topo

Leonardo Sakamoto

Bolsonaro não trouxe sorte para candidatos que o abraçam no Rio e em SP

Carlos Arthur/Estadão Conteúdo e Marcos Bezerra/Futura Press
Imagem: Carlos Arthur/Estadão Conteúdo e Marcos Bezerra/Futura Press

Colunista do UOL

23/10/2020 03h07

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Jair Bolsonaro não tem trazido sorte para candidatos que o abraçam no Rio e em São Paulo.

Celso Russomanno bate no peito que é amigo pessoal do presidente da República. Tem repetido, exaustivamente, no horário eleitoral, que Bolsonaro pegou em seu braço e pediu para que ele "cuide de São Paulo".

Marcelo Crivella, que também lembra a amizade com Jair Messias desde os tempos em que estavam no Exército, teve autorização para o uso de sua imagem em campanha. O que tem feito, convulsivamente.

Mas pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta (22), mostrou que a intenção de voto em Celso Russomanno (Republicanos) caiu de 27% para 20% desde que começou a propaganda no rádio e na TV há 15 dias.

Com isso, perdeu a liderança isolada e empatou com Bruno Covas, que subiu a 23% - a margem de erro é de três pontos. Logo atrás, aparece Guilherme Boulos (PSOL), com 14%.

Enquanto isso, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), que já amargava menos da metade das intenções de voto do primeiro colocado, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), vê crescer o risco de ficar fora do segundo turno.

Ele está com 13%, mesma taxa de Martha Rocha (PDT). Benedita da Silva (PT) tem 10%. Ambas subiram enquanto ele permaneceu praticamente na mesma, indo de 14% para 13%.

Seria injusto dizer que estão nessa situação por conta de falarem de Bolsonaro. Ambos - que compartilham o mesmo partido político e a benção da mesma Igreja Universal - têm seus próprios deméritos e suas próprias acusações de corrupção. Além do fato que Tatto está pegando de volta parte do público lulista que havia demonstrado intenção de voto em Russomanno.

A gestão Crivella conta com péssima avaliação, sendo o candidato com maior rejeição - 58% não votaria nele nem que a vaca tussa. Russomanno viu sua rejeição subir de 21% para 38% em um mês, alcançando o primeiro lugar isolado nesse quesito - o mesmo recall que o levou a disparar inicialmente, agora cobra seu preço, com a lembrança do porquê ele desidratou em outras eleições.

Mas não deixa de ser paradigmático que os candidatos que mais se esforçam em mostrar que têm o apoio de Bolsonaro estejam tão mal nas duas maiores cidades brasileiras.

Pesquisa Ibope, divulgada no dia 17, apontou que 48% dos paulistanos avaliam a administração de Bolsonaro como ruim ou péssima, enquanto 27% aponta como boa ou ótima. No Rio, os índices são de 38% e 34%, respectivamente. Ele não é, nem de longe, um grande eleitor nas duas capitais. Aliás, pelo contrário.

Uma das apostas de Russomanno e Crivella é que se conseguissem manter os votos daqueles que avaliam bem o presidente, estariam no segundo turno ao menos.

Para tanto, Bolsonaro teria que entrar de cabeça na campanha de ambos, com a ajuda de membros do seu governo e ele próprio, para estimular esse naco minoritário de simpatizantes.

Seria uma aposta arriscada emprestar sua imagem para um possível desastre.

Dificilmente alguém tão cioso de sua própria sobrevivência, como o presidente, colocaria em risco sua popularidade com a chance de ser tragado pela rejeição de ambos no Rio e em São Paulo. Não vale o preço de garantir aliados nas duas maiores cidades visando à reeleição. Isso sem contar que sua presença na campanha pode fermentar ainda mais a insatisfação contra ele, sendo ruim para todos.

Bolsonaro indicou que entrará em campanhas para derrotar a esquerda em disputas de segundo turno. Corre o risco de não ter quem queira seu apoio no segundo turno nessas duas capitais.