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Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

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Manuela diz que foi alvo de deputado acusado de usar servidor como babá

6.ago.2019 - O deputado estadual Ruy Irigaray (PSL-RS), durante sessão plenária - Divulgação/ALRS
6.ago.2019 - O deputado estadual Ruy Irigaray (PSL-RS), durante sessão plenária Imagem: Divulgação/ALRS

Colunista do UOL

15/02/2021 10h32

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O deputado estadual Rui Irigaray (PSL-RS) foi acusado de manter um "gabinete do ódio", com mais de 50 telefones celulares para postar notícias e atacar adversários políticos. De acordo com Cristina Nebas, sua ex-funcionária que levou o caso ao Ministério Público, entregando fotos, vídeos e trocas de mensagens, o gabinete também criava perfis falsos em redes sociais para questionar políticos sem afetar a sua imagem.

Ele também foi acusado de utilizar os servidores de seu gabinete para reformar a casa da sogra, servir de babá para seus filhos, trabalhar como empregada doméstica e cuidar do cachorro no horário em que deveriam estar trabalhando para o mandato. E de ficar com parte dos salários, as famosas "rachadinhas". O deputado negou as acusações.

Logo após as denúncias virem a público, na noite deste domingo (14), através de reportagem da TV RBS veiculada no programa Fantástico da Rede Globo, a candidata do PC do B à prefeitura de Porto Alegre, Manuela d'Ávila, postou no Twitter que a denúncia a lembrou da "violência dos seus eleitores na porta da minha casa em 2018".

Naquele ano, ela foi candidata à vice-presidente na chapa com Fernando Haddad (PT).

"Aqui no Rio Grande do Sul são pelo menos quatro 'gabinetes do ódio', que se organizam de forma quase autônoma, retroalimentando-se e abastecendo-se. Ele fazia parte disso. Essa turma, permanentemente, organizou agressões contra nós", afirmou a ex-deputada federal à coluna.

Segundo Manuela, o assédio não ficou restrito à internet, mas também chegou à sua casa. "Na eleição de 2018, eles estacionaram na porta do meu edifício um caminhão-tanque, desses aposentados das Forças Armadas, com adesivos desse deputado e vários '17' [número do PSL, pelo qual Jair Bolsonaro foi eleito] pintados."

O termo "gabinete do ódio" foi inicialmente usado para o grupo de servidores públicos no Palácio do Planalto com a tarefa de atacar adversários do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais. Eles são acusados também de promover as manifestações antidemocráticas do ano passado e de promover notícias falsas. 

'Gabinete do ódio' gaúcho também serviria para atacar adversários políticos

Entre as postagens de perfis falsos no Facebook criados por esse "gabinete", havia um ataque ao deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS). A ex-servidora de Irigaray entregou os prints da mensagem a esse parlamentar, que pediu abertura de investigação ao MP.

"Crime contra a honra, calúnia, difamação. Eu não vou deixar assim. Ele vai para a barra dos tribunais. Pessoas desse nível, desse quilate, tem que ser banidas urgente", afirmou Bibo à RBS.

"Eu nunca solicitei para ela fazer nenhum tipo de ataque ao deputado Bibo Nunes. Isso é, com certeza, uma disputa política regional que existe aqui no Estado do Rio Grande do Sul, clara, e não é de hoje", contestou Irigaray.

Manuela afirma que ambos deputados usam dos mesmos métodos, sendo uma briga entre iguais, que traduz uma disputa pelo comando do partido no estado.

"O Bibo, na campanha eleitoral de 2020, foi quem coordenou o caminhão de som que passava pelas ruas de Porto Alegre dizendo que eu ia autorizar a venda de carne de cachorro na cidade", diz. "Então, de mentira, parece que de mentira ele entende também."

Manuela compara o caso com as denúncias contra a Lava Jato

Rui Irigaray foi um dos deputados eleitos com o discurso do combate à corrupção e da moralização da coisa pública na esteira da campanha de Jair Bolsonaro. Manuela d'Ávila avalia que políticos que "tentam se transformar em heróis a partir do tema do combate a corrupção, que nada mais é uma obrigação de todos, têm sido desmascarados pela história".

"É assim com quase todos os operadores da operação Lava Jato, foi assim neste final de semana com o Rui Irigaray e tenho certeza que será com muitos outros ainda", afirma.

À RBS, o deputado estadual afirmou que a ex-servidora que, junto com outra assessora, o denunciou havia se prontificado a fazer as atividades em sua casa. "E outra coisa, ela recebeu por isso, tá? Inclusive, se eu não me engano, ela ganhava R$ 100 cada vez que ela pegava e levava as meninas, quando a minha esposa fez uma cirurgia", disse.

O MP-RS disse que vai apurar se houve improbidade administrativa.

O deputado negou que fizesse rachadinha. "Eu, graças a Deus, não faço essa prática aqui no meu gabinete e não tenho necessidade disso. E mesmo que tivesse, não faria". 

O desvio de recursos públicos através da devolução compulsória de parte do salário de servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro foi um dos motivos que levou o, hoje, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), primogênito do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a ser denunciado pelo Ministério Público.