Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Após diálogo bizarro com Kajuru, Bolsonaro alerta seguidores: 'preparem-se'
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Após repercussão da divulgação de sua conversa com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), em que tratam do impeachment de membros do Supremo Tribunal Federal, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) postou em sua conta no Facebook, na manhã desta segunda (12), um texto em que alerta os membros de sua militância: "preparem-se".
Não dá detalhes para o quê, mas pequenas manifestações de apoio ao presidente, neste domingo (11), pediram autogolpe militar e prisão de membros do STF. A postagem tenta mobilizar sua base diante da CPI da Pandemia utilizando o espantalho do comunismo e produzindo cortina de fumaça perante sua responsabilidade nas mais de 353 mil mortes de covid-19 até agora.
Além disso, Bolsonaro e Kajuru falaram sobre a necessidade de investigar governadores e prefeitos, o que desviaria do foco da comissão parlamentar de inquérito criada para analisar as omissões e perversões do governo federal frente à doença. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que estava retendo a investigação ao arrepio da Constituição, terá que instalar a CPI após determinação do ministro Luís Roberto Barroso - o que enfureceu Jair.
Para excitar sua base de seguidores de extrema direita, a postagem do presidente atacou medidas de isolamento social, misturando de forma bizarra a proibição de cultos presenciais e a restrição de deslocamentos, com "expropriação de imóveis". E disse que tudo o que está acontecendo é uma amostra do "comunismo" e da ação de "protótipos de ditadores".
O teor da postagem é infantil, porém atinge em cheio o rebanho do presidente, apresentando a CPI como um palco de batalha entre o bem (Jair) e o mal (qualquer pessoa que critique o "mito") e gerando ainda mais confusão em um ambiente cheio de sensibilidades e ruídos.
Como sempre faz quando se sente emparedado e precisa de apoio, Bolsonaro retomou a facada que recebeu em 6 de setembro de 2018, durante a campanha eleitoral, e disse que se ela tivesse tido sucesso, Fernando Haddad (PT) ou Ciro Gomes (PDT) poderiam estar governando. E que, nesse caso, a liberdade não existiria.
E mesmo tendo sido o responsável por trabalhadores informais pobres passarem fome, com um atraso de mais de três meses na retomada do auxílio emergencial e com uma redução no valor pago a míseros R$ 150 a R$ 375 (isso sem contar o fato de ter sido o culpado pelo atraso na retomada dos programas de garantia de empregos formais e de ajuda a pequenos e micros empresários), ele tratou do caos como se não fosse seu patrono.
"Cada vez mais a população está ficando sem emprego, renda e meios de sobrevivência... o caos bate na porta dos brasileiros", postou.
Por fim, o presidente - ou alguém que detém a senha de sua conta - publicou: "Pergunte o que cada um de nós poderá fazer pelo Brasil e sua liberdade e ... prepare-se".
O alerta, sem mais detalhes, também vai ao encontro de uma prática comum pelo clã Bolsonaro de insinuar atos golpistas para gerar apreensão na sociedade, repercussão na mídia e animação entre os seguidores, mesmo que o governo não tenha forças para isso. Pelo menos, não neste momento.