Topo

Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

CPI da Pandemia salvará milhares de vidas se frear sabotagem de Bolsonaro

Bolsonaro mostra uma caixinha de Hidroxicloroquina   - Carolina Antunes/PR
Bolsonaro mostra uma caixinha de Hidroxicloroquina Imagem: Carolina Antunes/PR

Colunista do UOL

12/04/2021 03h58

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Mais do que apontar culpados, uma CPI da Pandemia pode reduzir a sabotagem do governo federal e impedir que a sombria projeção de 650 mil mortos em 1º de agosto se concretize. Até porque o principal responsável pelo caos, o presidente da República, é bem conhecido e parece se orgulhar do feito. 

Não surpreende, portanto, que tenha discutido formas de sabotar a comissão, como ficou claro na imprópria conversa com Jorge Kajuru (Cidadania-GO), tornada pública pelo senador, usando pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal e a inclusão de governadores e prefeitos no processo de investigação. Que Jair Bolsonaro queira melar a CPI, isso é parte da sua índole. A questão é se a maioria dos parlamentares vai se prestar a esse papel.

Os presidentes do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), dizem que não é hora de apontar culpados. Mas estamos falando de interromper omissões e perversões para salvar vidas. Uma CPI sobre o que o governo federal fez ou deixou de fazer tem mais potencial de resolver problemas pelo medo que impõe a Jair Bolsonaro do que aquele comitê para inglês criado com ajuda de ambos.

E nem é necessário que as investigações cheguem a um termo. Ao primeiro cheiro de água sanitária, as coisas podem mudar. 

Por exemplo, investigar a razão de o governo ter ajudado a asfixiar Manaus com a falta de oxigênio ou por que deixou pessoas morrerem em macas ao não repassar recursos para que Estados montassem leitos de UTI forçará o poder público a garantir insumos. E buscar explicações para o governo ter gasto tanto para produzir cloroquina, remédio sem eficácia comprovada para a covid-19, e quem ganhou dinheiro com isso, deve ajudar a tirar força do charlatanismo.

Bolsonaro atua contra a saúde pública ao implementar sua política negacionista e, depois, consolida o caos ao impedir a investigação sobre o que fez. Se aceitar isso, o Congresso troca o bem-estar de um clã político, que sabota a República, por milhares de vidas.

Podemos chegar a 654 mil mortes em 1º de agosto, no pior cenário projetado pelo Instituto de Métricas de Saúde e Avaliação da Universidade de Washington. Com isso, faltaria pouco para ultrapassar o primeiro colocado global, os Estados Unidos, que podem atingir 697,6 mil óbitos no pior cenário. O país totalizou, neste domingo (11), 353.293 mortos.

Ou seja, temos, na pior da hipóteses, um caminho de mais 300 mil pela frente, se o governo estiver livre para continuar fazendo o que faz de melhor.

O ideal seria o afastamento de Bolsonaro. Como senadores e deputados do centrão não vão sacrificar sua galinha dos ovos de ouro e o procurador-geral da República, de olho em uma vaga no Supremo Tribunal Federal, faz até pregação religiosa no STF, faz-se necessário outra forma de pressão. Daí, surge a CPI, um instrumento que pode dar em muita coisa, inclusive em nada, mas é o que temos para hoje.

Por fim, um registro de ironia: Jair Bolsonaro está fomentando o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, como ficou claro em conversa com Jorge Kajuru. Mas ele próprio tem, pelo menos, 107 pedidos esperando para serem analisados pela Câmara. Se é uma questão de justiça, bora fazer os dele correrem na Câmara. A sociedade poderia fazer "do limão uma limonada".