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Política é pauta 'mortal' para jornalistas na América Latina, segundo ONG
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A América Latina é a região com o maior número de jornalistas mortos em função do exercício de sua profissão. Apenas quatro países - Brasil, Colômbia, México e Honduras - foram palco de 139 assassinatos de profissionais de imprensa na última década, o que representa 80% de toda a região. Os dados são de levantamento divulgado, nesta quinta (13), pela organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras.
"Quando um país é palco de uma situação estrutural de violência contra a imprensa, não é apenas a liberdade de expressão individual desses jornalistas que é afetada, mas também o direito coletivo à informação de toda uma sociedade", diz o relatório.
A função mais perigosa foi a de repórter e repórter fotográfico/cinematográfico, que contou com metade das mortes.
E as coberturas mais "letais" foram a de crime organizado (ao menos 46%), política (ao menos 39%), corrupção (ao menos 23%) e assuntos locais (ao menos 21%). O total dá mais de 100% porque há profissionais que cobriam mais de uma área ao mesmo tempo.
De acordo com a Repórteres Sem Fronteiras, organização com sede na França, cujo objetivo é defender a liberdade de imprensa, em 92% dos casos analisados, os agressores visaram um jornalista específico. E em apenas 7,2% os profissionais de imprensa foram atingidos de forma não intencional.
A maioria (58%) foi morta perto de casa ou no trajeto para o trabalho, quando eram vigiados por seus algozes. Em 23% dos casos, as vítimas foram sequestradas e, então, executadas. Parte destes foi mutilada antes de ser morta.
Entre os que foram mortos, 56% viviam em cidades com menos de 100 mil habitantes, 27% entre 100 e 500 mil e 17% com mais de 500 mil habitantes, mostrando que se é perigoso ser jornalistas nos grandes centros é ainda mais fora deles.
A Repórteres Sem Fronteiras lembra que, infelizmente, a proteção por parte do Estado ainda é rara na região. Pelo menos 45% das vítimas já haviam recebido ameaças publicamente, porém apenas 7,2% contavam com medidas de proteção.
"O assassinato de jornalistas é apenas a ponta do iceberg de uma espiral de violência contra a imprensa. Uma prática que faz parte de um cenário mais amplo de ameaças permanentes e de violência estrutural na região, que atinge de maneira sistemática defensores e defensoras de direitos humanos e todos que trazem a público denúncias contra grupos poderosos - seja o poder político formalmente instituído, seja o poder paralelo de organizações criminosas", conclui o relatório.