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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Prioridade de Queiroga é agradar Bolsonaro. A saúde do país? Que se exploda

Marcello Casal jr/Agência Brasil
Imagem: Marcello Casal jr/Agência Brasil

Colunista do UOL

07/12/2021 23h34

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Quando Marcelo Queiroga assumiu o Ministério da Saúde houve quem suspirasse aliviado com a vinda de um médico para suceder a tragédia chamada Eduardo Pazuello. Avisamos, porém, que qualquer pessoa que aceitasse o cargo depois da sabotagem explícita de Jair Bolsonaro no combate à pandemia é porque concordava com ele ou aceitaria ser marionete. Dito e feito.

Queiroga fez uma coletiva à imprensa, nesta terça (7), para informar que o governo federal iria dar uma banana à Anvisa, que recomendou exigir um certificado de vacinação para quem entrasse no Brasil. No lugar, cobraria um teste e uma inviável quarentena de cinco dias para os não-vacinados.

Por razões ideológicas, rifou a vida de brasileiros, fazendo com que o país seja uma espécie de meca do turismo dos não-vacinados. Venham a nós, negacionistas e terraplanistas biológicos, que o Brasil quer a sua variante de coronavírus.

"Essa questão da vacinação, como realcei, tem dado certo porque nós respeitamos as liberdades individuais. O presidente falou agora há pouco: 'às vezes, é melhor perder a vida do que perder a liberdade'", afirmou, relembrando um dos muitos bordões-aberração que o presidente criou na pandemia.

Seria melhor o doutor ter mostrado ao Brasil o mesmo dedo do meio que entregou, surtado, a manifestantes que protestavam contra o governo em Nova York. Seria mais direto.

O que leva uma pessoa que prometeu, sob o juramento de Hipócrates, "nunca causar dano ou mal a alguém", mandar tudo às favas? No caso de Queiroga, amar mais ao cargo do que a vida de seus semelhantes. Ele adula o presidente da República, mostrando-se ideologicamente alinhado, para se manter sob suas graças, garantindo um gabinete com vista para a Esplanada dos Ministérios, carro oficial, apartamento funcional e assessores sempre girando suas maçanetas.

O governo Bolsonaro tem uma coleção dessas diminutas biografias, que fazem de tudo para permanecer onde estão porque sabem que nunca conseguirão nada melhor do que o posto que ocupam. Por exemplo, o ministro da Economia Paulo Guedes leva sistematicamente passa-moleque do presidente, sendo desautorizado em público, mas diz amém no final porque, provavelmente, acredita que não terá outra chance igual.

Em nome de uma cruzada pela "liberdade individual de não se vacinar" e, consequentemente, "pelo direito de continuar infectando outras pessoas", Jair Bolsonaro se nega a exigir um passaporte de vacinação. Sabe que quanto mais distorcer a compreensão de direitos e deveres e de riscos à saúde pública, mais irá gerar admiração entre a turma do "cada um por si e Deus acima de todos".

E que quanto mais agredir a ciência, mais provocará suspiros entre os seus seguidores negacionistas. Isso atua no fortalecimento de sua relação com seus seguidores, que serão fundamentais para a guerra da campanha eleitoral do ano que vem.

Queiroga já disse ser "absolutamente contrário" às leis que obrigam o uso de máscaras e fez uma comparação estapafúrdia com a obrigatoriedade de usar preservativos. Também suspendeu a vacinação de adolescentes após redes bolsonaristas bombarem mentiras sobre mortes de jovens; bloqueou a aprovação de novo protocolo para tratamento de covid-19 que orienta a não utilização de cloroquina, ivermectina e azitromicina; deu corda para o negacionismo de Bolsonaro, não raro, justificando-o. É a alegria dos fãs do presidente.

Uma das maiores cascatas contadas sobre o governo Jair Bolsonaro é a de que ele conta com uma área técnica que se contrapõe a uma área de extrema direita. Ministros como Queiroga são a prova de que não há dois grupos, mas um só. O que muda é a quantidade de purpurina que jogam em cima de um deles para disfarçar.