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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Datafolha: Bolsonaro é a glória e a maldição de seu afilhado Tarcísio em SP

Alan Santos/PR
Imagem: Alan Santos/PR

Colunista do UOL

07/04/2022 18h02

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Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem uma glória e uma maldição: seu futuro na disputa ao governo do Estado de São Paulo está atrelado ao do presidente. Como o carioca é desconhecido por aqui, precisa do padrinho para uma transferência de popularidade, até porque só voto de empresário e da classe alta não enche urna. Mas também tem que tomar cuidado para que a nababesca rejeição a Jair Bolsonaro (PL) não corte suas asas.

A pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta (7), aponta que o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) lidera com 29%, seguido por Márcio França (PSB), 20%, daí aparece Tarcísio, com 10%, empatado no limite da margem de erro de dois pontos com o governador Rodrigo Garcia (PSDB), que tem 6%.

A tendência é que, na medida que se tornar mais conhecido (hoje, 38% sabem quem ele é), o ex-ministro da Infraestrutura cresça acompanhando a votação de Bolsonaro no estado. O seu cenário dos sonhos seria reeditar em São Paulo a disputa polarizada travada em nível federal, agregando o antipetismo em torno de si.

Mas sabe o que também é forte em São Paulo? O antibolsonarismo. Tarcísio precisa colar em Bolsonaro sim, mas garantir que a rejeição do padrinho não cole nele antes que alcance patamar suficiente para passar ao segundo turno. Senão, aquilo que é glória vira maldição. Além disso, por aqui, há mais pré-candidaturas competitivas do que em âmbito nacional.

As pesquisas até aqui mostram que, em São Paulo, o voto "nem Lula, nem Bolsonaro" consegue mais tração do que em outros lugares. O governador Rodrigo Garcia e as dezenas de bilhões de reais que ele tem nos cofres paulistas para gastar em obras e repasses contam com isso. Para tanto, tem que deixar seu padrinho, João Doria, desde o início, o mais longe possível - o tucano tem rejeição tão alta quanto a de Bolsonaro, mas sem a mesma intenção de voto.

Tarcísio aposta que não só emprestará, mas que entregará um bom palanque a Jair. Mas um pacotão de deputados, prefeitos e vereadores do PL de Valdemar da Costa Neto, que apoia o presidente nacionalmente, por via das dúvidas, já anunciou que vai de Garcia.

Dados da última pesquisa Quaest/Genial para São Paulo mostram que Haddad cresce de 35% para 41% com a informação de que será apoiado por Lula. Tarcísio vai de 15% a 27% quando o eleitor fica sabendo que Bolsonaro está por trás. Já Garcia permanece na mesma, indo de 8% para 9%, quando avisado que Doria lhe confere apoio.

Sem França, Haddad vai a 35% e Tarcísio empata com Garcia em segundo lugar, com 11%, de acordo com o Datafolha. Para a esquerda, a melhor estratégia, por enquanto, é ter dois candidatos ao governo de São Paulo apoiando Lula.

Há garantia que o ex-governador permanecerá em segundo lugar, mesmo com o apoio do neossocialista, Geraldo Alckmin? Não. É possível que Garcia e Tarcísio disputem a vaga mais à direita no segundo turno paulista contra Haddad ou França. Mas um segundo round entre PT e PSB em São Paulo, apesar de difícil, seria o céu para Lula.

Haddad terá pela frente o antipetismo, muito forte no interior, apesar de ser considerado por muitos como um "petista light". Por outro lado, tem o recall de ter sido prefeito da capital e candidato derrotado na eleição presidencial de 2018. E sua rejeicão (34%), apesar de ser a mais alta entre todos os pré-candidatos ao Palácio dos Bandeirantes, é relativamente baixa para um candidato conhecido por 94% dos entrevistados pelo Datafolha.

Já França tem defendido que sua candidatura é mais competitiva que a de Haddad num segundo turno contra a direita/centro-direita por dialogar com mais públicos. Por exemplo, o Datafolha apontou que o ex-governador conta com 23% entre os que eleitores que avaliam o governo Bolsonaro como ótimo ou bom, no empate técnico com o próprio Tarcísio (26%). E, por isso, defende que deveria representar a aliança nacional PT-PSB em São Paulo, apesar de estar nove pontos atrás nas pesquisas.

França tem rejeição de 20% e é conhecido por 74% dos eleitores; Tarcísio tem 16% de rejeição e, como já dito, 38% de conhecimento; e, Garcia, 17% e 38%, respectivamente.

Apenas por curiosidade mórbida: o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, que fugiu no Brasil com medo de ser preso após atacar ministros do Supremo Tribunal Federal, é o segundo pré-candidato mais rejeitado, com 25%, apesar de ser conhecido por 28%. Pela margem de erro, praticamente todos os que o conhecem o rejeitam. Tem só 1% das intenções de voto.