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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro prefere ficar conhecido como 'golpista' do que como 'Bolsocaro'

Agência Brasil
Imagem: Agência Brasil

Colunista do UOL

17/05/2022 17h42

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Claro que Bolsonaro daria um golpe de Estado hoje mesmo se pudesse, tanto para criar uma dinastia quanto para fugir da cadeia pelo rosário de crimes que cometeu antes e durante o mandato. E, caso perca as eleições em outubro, vai incitar sim uma insurreição armada de seus seguidores para contestar o resultado. Neste ponto, ele é um homem de palavra. Vem alertando, desde 2018, que faria isso, ou seja, antes mesmo de ser eleito.

As ameaças do presidente têm duas funções: a) incitar um golpismo que, mesmo que não se consume, custará vidas e provocará uma fratura em nossa democracia e b) retirar das manchetes e das redes sociais a notícia de que o custo de vida no Brasil está pela hora da morte. Pesquisas de intenção de voto mostram que isso é péssimo para ele, principalmente entre os que ganham até dois salários mínimos.

Jair aposta que o golpismo nuble o debate público até mais ou menos o início da campanha, quando a inflação deve dar sinais de melhora. Se o aumento de preços fosse debatido com o mesmo alarde dado ao golpismo, a percepção sobre o seu governo seria bem pior do que ela já é entre os trabalhadores. O pulo do gato é que, por conta disso, ele prefere ser chamado de "golpista" do que de "Bolsocaro", uma vez que a segunda expressão é perfeitamente compreendida pela massa.

Nesta terça (17), ele veio novamente como o mesmo mimimi, dizendo que a "arma de fogo, além de segurança para as famílias, é segurança para nossa soberania nacional e a garantia de que a nossa democracia será preservada". E completou: "não interessa os meios que um dia porventura tenhamos que usar".

É a continuidade do discurso destemperado que ele fez ontem em um evento da Associação Paulista de Supermercados. Aliás, aquele teria sido o momento perfeito para falar de propostas para promover o crescimento da economia, gerar empregos formais e de qualidade, garantir acesso a alimentos por parte da população mais pobre e baixar a inflação. Se ele soubesse como, claro.

A gasolina deve subir logo mais por conta da defasagem de preços entre o mercado internacional e aquele praticado aqui dentro. O governo sabe disso e continua com seu show de ilusionismo, trocando diretor da Petrobras e ministro de Minas e Energia e prometendo uma privatização da empresa que não vai acontecer. Tudo para ver se caminhoneiro e motorista de aplicativo são trouxas.

Outras mágicas do governo passam por ajudar o país crescer, mas sem contar que isso seria feito em cima do lombo dos trabalhadores. Como a proposta que está sendo gestada pelo Ministério da Economia, e foi revelada pela Folha de S.Paulo, de reduzir o FGTS recolhido pelas empresas a um quarto do valor que é hoje, além de diminuir a multa paga em caso de demissão sem justa causa.

Ou a Medida Provisória 1.099/2022, que prevê que jovens pobres e desempregados com mais de 50 anos trabalhem meio período para prefeituras ganhando meio salário mínimo e sem nenhum direito. Como bem disse o colunista do UOL Carlos Julianos Barros, isso é o caminho da servidão.

O presidente tem palanque 24 horas por dia, sete dias por semana, por conta do cargo que ocupa. Tem usado o espaço para fazer uma campanha torpe de ameaça à democracia, que tem sido muito útil para encobrir a sua incompetência. Poderia anunciar planos consistentes para melhorar a economia e os direitos sociais no país? Talvez não. Seria o mesmo que pedir para um escorpião ignorar sua natureza e não ferroar qualquer coisa que se coloque no seu caminho.