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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Desesperado com diesel, Bolsonaro quer vender o fogão para comprar almoço

Colunista do UOL

07/06/2022 10h14

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Desesperado com as pesquisas de intenção de voto que mostram a inflação dando um terceiro mandato a Lula, Jair Bolsonaro e equipe propõem que o Brasil venda o fogão da casa para ajudar a comprar o almoço. Mesmo sabendo que isso não garante o jantar.

Nesta segunda (6), ele propôs uma emenda constitucional para cortar impostos federais e estaduais de combustíveis apenas até o final do ano (leia-se, "até eu ser reeleito, talkey?"). O custo disso ficaria, segundo a incrível precisão de Paulo Guedes, entre R$ 25 bilhões e R$ 50 bilhões.

Não à toa o Brasil passa fome. Qualquer família que gerisse as contas de sua casa com a mesma exatidão com a qual o ministro da Economia administra as contas do país, a barriga de seus filhos também roncaria.

Os recursos para isso, segundo ele, poderiam vir da privatização da Eletrobrás. Como a venda da estatal deve gerar uns R$ 35 bilhões, Bolsonaro quer evaporar patrimônio público de um setor estratégico para ser queimado nos motores de caminhões, carros e motos até o final do ano.

A medida é um descaramento só. O preço poderia cair num primeiro momento, o que levaria a um ganho eleitoral para Jair, que promoveria motociatas para celebrar a si mesmo, como gosta de fazer. Mas com a escalada no preço internacional do petróleo e a manutenção da política de preços da Petrobras, os combustíveis continuariam subindo.

Importadores dizem que a gasolina acumula defasagem de 20% e o diesel, 14%, frente ao mercado internacional. Ou seja, o corte de impostos do governo (que nunca seria repassado integralmente às bombas porque os empresários de postos e distribuidoras ficariam com uma parte para si) poderia surtir pouco efeito mesmo num primeiro momento.

Mas o patrimônio público terá sido queimado para sempre, sem que tenha sido investido em algo que transforme o país, como educação, saúde, pesquisa e ciência, moradias populares.

Pior: o corte forçado do ICMS vai afetar o financiamento de escolas, de hospitais, da segurança pública nos estados. O presidente quer compensar apenas uma fatia de 17% do imposto, dando uma banana para os valores acima desse montante que hoje caem nos cofres estaduais.

Isso vai atingir principalmente os mais pobres - fatia que, ironicamente, Bolsonaro está desesperado para abocanhar com essas ações para reduzir o preço dos combustíveis e, consequentemente, a inflação.

Lula tem 48% e Bolsonaro, 27%, na pesquisa Datafolha. Olhando especificamente para o público que ganha até dois salários mínimos (que o instituto considera como 52% da população), a vantagem do petista sobe para 56% a 20%.