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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Para eleger Bolsonaro, Lira imita Lula sobre política de preço da Petrobras

Agência Brasil
Imagem: Agência Brasil

Colunista do UOL

17/06/2022 10h15

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Assim que o Conselho de Administração da Petrobras deu aval para um novo reajuste no preço dos combustíveis (a empresa anunciou um aumento de 5,2% na gasolina e 14,2% no diesel nesta sexta), a cúpula bolsonarista da República surtou nas redes sociais, temendo o impacto disso nas eleições. A tal ponto que, no Twitter, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), incorporou Lula, o principal adversário de seu sócio, Jair Bolsonaro.

Dizendo que "a República Federativa da Petrobras" anunciou "o bombardeio de um novo aumento nos combustíveis", agindo como "amiga dos lucros bilionários e inimiga do Brasil", Lira postou, nesta quinta, que convocará "uma reunião de líderes para discutir a política de preços da Petrobras". Entrega, assim, uma resposta aos eleitores de Bolsonaro, como caminhoneiros, que ameaçam abandoná-lo.

Ironicamente, a declaração ecoa o ex-presidente Lula, que vem defendendo uma nova política de preços para a Petrobras, hoje atrelada às variações do preço internacional, em dólar.

"Nós não vamos manter o preço dolarizado. Eu acho que os acionistas de Nova York, os acionistas do Brasil, têm direito de receber dividendos quando a Petrobras der lucro, mas é importante que a gente saiba que a Petrobras tem que cuidar do povo brasileiro", afirmou o petista em fevereiro, por exemplo.

"Eu não posso enriquecer um acionista americano e empobrecer a dona de casa que vai comprar um quilo de feijão e paga mais caro por causa do preço da gasolina."

A mudança na política de paridade de preços de importação vem sendo defendida pela oposição no Congresso Nacional há tempos. Por exemplo, o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (PT-MG), já afirmou que "a política de preços do governo Bolsonaro está quebrando o país", e a líder do PSOL na casa, Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que "o que precisamos fazer é a revogação imediata do PPI [preço de paridade de importação]".

Mas Lira vinha tomando cuidado para não encampar a bandeira da discussão sobre a alteração na política, preferindo reclamar de falta de transparência sobre o assunto e defender a privatização da companhia - o que demoraria anos para se concretizar e não causaria necessariamente impacto nos preços, segundo analistas de mercado. Agora, o desespero eleitoral governista atropela a preocupação em parecer oportunista.

A declaração sobre a revisão da política de preços vinda do presidente da Câmara pode ser encarada como ameaça contra a empresa e seus acionistas, do tipo, "já que vocês não ajudam a manter o combustível baixo para ajudar na reeleição, podemos podar os dividendos de vocês". Por enquanto, está na categoria de bravata para dar uma resposta aos eleitores do presidente.

Até porque o governo poderia já ter alterado a política de preços por conta própria, já que é o controlador da empresa, mas o ministro da Economia Paulo Guedes não quer nem ouvir falar do assunto. Considera que seria comparado à ex-presidente Dilma Rousseff, que segurou os preços, diante do mercado.

Bolsonaro esquece que é presidente e ameaça com greve de caminhoneiros

Menos sutil em ameaças é o presidente da República. Na manhã desta sexta (17), Bolsonaro disse que "a Petrobrás pode mergulhar o Brasil num caos", citando que a direção da empresa sabe "o que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018, e as consequências nefastas para a economia do Brasil e a vida do nosso povo".

Na época, o candidato Jair ajudou a incendiar os grevistas contra Michel Temer. Hoje, contudo, é ele o presidente, por mais que terceirize suas responsabilidades.

E afirmou que "o governo federal como acionista é contra qualquer reajuste nos combustíveis, não só pelo exagerado lucro da Petrobrás em plena crise mundial, bem como pelo interesse público previsto na Lei das Estatais". Explica-se: para que o conselho da empresa tenha dado o aval para o aumento, a representação do governo no conselho deu um passa-moleque na vontade de Jair.

O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), também foi às redes sociais contra o aumento. E como um líder da oposição apesar de ser governo, afirmou: "Basta! Chegou a hora. A Petrobras não é de seus diretores. É do Brasil. E não pode, por isso, continuar com tanta insensibilidade, ignorar sua função social e abandonar os brasileiros na maior crise do último século".

O aumento nos combustíveis reforça o argumento daqueles que avisaram que o projeto bolsonarista de limitar o valor do ICMS para baixar o preço dos combustíveis, aprovado pelo Congresso, teria baixa efetividade diante de um petróleo que continua a subir internacionalmente. E que, no final das contas, servirá apenas para bagunçar as contas de educação, saúde, segurança, transporte dos estados, sem causar grande impacto na inflação.

Os que defendem a paridade lembram que o Brasil, apesar de ser grande produtor de petróleo, não tem capacidade de refino para a sua demanda, precisando importar combustível. Se a paridade cair, isso poderia levar a uma dificuldade de comprar os produtos de fora, levando a um desabastecimento. Do outro lado, os críticos a isso afirmam que parte dos lucros da empresa, que estão acima do que é pago em outras similares, poderiam ser usados para garantir esse abastecimento.

O aumento no diesel, na gasolina e no gás de cozinha tem sido o principal pesadelo de Jair Bolsonaro, junto com a alta no preço dos alimentos. Ele é o principal responsável pela inflação de dois dígitos, segundo levantamentos dos institutos de pesquisa. A percepção vem corroendo sua intenção de voto e fazendo com que o povo mais pobre sinta saudades da época em que Lula era presidente.