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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com veto, Bolsonaro tira da educação do pobre e põe no tanque de gasolina

Alan Santos/PR
Imagem: Alan Santos/PR

Colunista do UOL

24/06/2022 11h12

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Dizem que o presidente da República não gosta de ser chamado de "Robin Hood às Avessas", sempre tirando dos pobres. Mas é ele mesmo quem alimenta a alcunha ao abraçar ações como a redução do imposto de combustível negando a reposição de recursos que seriam usados em serviços públicos que beneficiam os mais vulneráveis.

Nesta quinta (23), Jair Bolsonaro (PL) sancionou o projeto de lei que limita o ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte. Mas vetou a compensação que o Congresso Nacional tinha aprovado para que estados e municípios pudessem manter os mesmos valores que desembolsavam em educação e saúde públicas antes da nova lei.

Com uma inflação que segue alta (o IPCA-15, prévia da inflação oficial, acelerou para 0,69% em junho, após registrar 0,59% em maio, acumulando 12,04% nos últimos 12 meses), Bolsonaro e seus aliados no Congresso buscam formas de reduzir o preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha.

Enquanto isso não acontece, a inflação corrói o poder de compra dos trabalhadores. Consequentemente, ele segue 34 pontos atrás de Lula (56% a 22%) entre quem ganha ate dois salários mínimos, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta.

Considerando que, em maio, os números eram de 52% a 20%, pode-se dizer que cerca de 80% dos mais pobres não estão vendo razão para votar em Bolsonaro.

No cômputo geral, Lula marca 47% e os outros concorrentes juntos, 41% (Jair é responsável por 28%), o que daria a vitória no primeiro turno ao petista. Não à toa, o governo Bolsonaro esteja tentando um aumento temporário de 50% no Auxílio Brasil, para R$ 600, para durar até o final do ano. Assim, ele teria uma boia em que se agarrar em meio à inflação alta e à fome, já que o valor de R$ 400 não faz mais diferença eleitoral diante da inflação.

Ao negar a recomposição de recursos, o presidente tenta mostrar resultados econômicos no curto prazo rifando a qualidade de vida futura da população que não pode pagar uma escola particular e não conta com um plano de saúde decente. Claro que reduzir os preços beneficia os mais vulneráveis, pois há um impacto nos alimentos. Mas não adianta descobrir um santo para cobrir o outro.

"Os vetos apresentados reforçam o nosso alerta: em vez de resolver a sério o problema, o governo apresenta paliativos que são prejudiciais", afirma o líder da minoria no Senado e relator dos projetos sobre o preço dos combustíveis, Jean Paul Prates (PT-RN).

Ele diz que a oposição vai atuar para derrubar os vetos presidenciais.

"O veto à recomposição dos recursos e da educação vai prejudicar demais esses serviços, e sabotar todos os ganhos que tivemos com o novo Fundeb. O governo prefere sacrificar a saúde e a educação pública a rediscutir a política de preços de combustíveis."

Caso tenha sucesso em alguma redução no preço do diesel, isso pode se traduzir em votos - apesar de não ser certo que os preços vão cair nas bombas na mesma proporção. O que é certo é que tirar orçamento da educação e da saúde fará com que a qualidade desses serviços caia. Alguma escola continuará sem água encanada e luz elétrica, outras não terão internet e ainda há aquelas que permanecerão sem laboratórios.

A questão é, portanto, de timing. Não tem importância tungar o povão, desde que ele só perceba isso quando for tarde demais.