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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Governo do RJ virou caixa eletrônico de grana pública para saque de aliados

Colunista do UOL

04/08/2022 08h57

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O governo do Rio de Janeiro transformou um órgão público, a Fundação Ceperj, em um grande caixa eletrônico para que seus aliados pudessem fazer saques de dinheiro público. Para quê? O Ministério Público, que investiga o caso, é que vai dizer, mas a farra pode financiar muita coisa - de remuneração de cabos eleitorais de amigos do governo até caixa 2 de campanha.

O governo Claudio Castro (PL) mantém ao menos 18 mil cargos secretos na Ceperj (Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio), sem nenhuma transparência, e aumentou o orçamento do órgão em 25 vezes desde que sua gestão assumiu. Foi encontrada até planilha relacionada a orçamento de 9 mil cargos secretos batizada com o nome de "governador".

A safadeza dos cargos secretos virou escândalo ao ser revelada por competente investigação dos repórteres Rubens Berta e Igor Mello, do UOL. Nova reportagem da série, publicada nesta quinta (4), mostra como o servidor público que mais recebeu dinheiro através dos cargos secretos, Fabrício Manhães Cabral, constrangedoramente tem dificuldade de explicar o que faz na fundação.

Ele, que recebeu R$ 122,8 mil em sete meses, e acumula funções em dois projetos, foi indicado pelo vereador Helinho Nahim, base de Claudio Castro em Campos (RJ), e aliado de Rodrigo Bacellar (PL), líder do governo na Assembleia Legislativa. Bora sublinhar: líder do governo.

Uma ação que tramita na 15ª Vara da Fazenda Pública do Rio aponta que o volume sacado nas agências onde os servidores recebem os pagamentos representa 91% do total pago a eles em 2022, ou seja R$ 226,4 milhões. O Ministério Público está questionando os gastos milionários sem transparência, ou seja, a Casa da Mãe Joana instalada no governo após as matérias do UOL.

O modelo dos saques pode ter sido semelhante ao da "rachadinha", em que salários são sacados e usados para finalidades diversas à remuneração pelos serviços prestados pela função pública. O modelo ficou famoso ao ser usado no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, primogênito do presidente, em um esquema organizado por outro Fabrício, o Queiroz. Neste caso, ao que tudo indica, temos uma "rachadinha eleitoral".

Os promotores Eduardo de Carvalho, Gláucia Santana e Silvio Ferreira afirmam que os saques em espécie são "um procedimento que afronta as mais comezinhas regras de prevenção à lavagem de dinheiro".

Ironicamente, a série de reportagens também apontou que pré-candidatos à Assembleia Legislativa e à Câmara dos Deputados pelo Podemos, partido pelo qual concorrerá o ex-procurador e ex-líder da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, controlavam programas com folhas de pagamentos secretas.

Sem contar que projetos comunitários, como o programa Esporte Presente, mantido pela Fundação Ceperj e pela Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro, têm sido usados em troca de apoio político.

Ou seja, descortina-se uma máquina muito bem azeitada, não visando ao bem público, mas ao interesse particular do governo e seus aliados.

Não se pode dizer, portanto, que isso é sintoma de desorganização da gestão Claudio Castro, que concorre à reeleição, uma vez que, segundo as reportagens do UOL, havia até uma tabela padronizada para sistematizar a indicação de cabos eleitorais de candidatos a deputado em cargos secretos da Fundação Ceperj.

Pelo contrário, a prática tem cheiro de crime muito bem organizado, daqueles que só os governadores do Rio são capazes de nos proporcionar.

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