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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro vive seu Dia D, nesta terça, com liberação do Auxílio de R$ 600

O ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL)                              - EVARISTO Sá/AFP E ISAC NóBREGA/PR
O ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) Imagem: EVARISTO Sá/AFP E ISAC NóBREGA/PR

Colunista do UOL

06/08/2022 11h08

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A próxima terça (9) marcará o início do desembarque do bolsonarismo no território dos mais pobres, hoje dominado com folga por Lula, com o começo do pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600. Se a invasão não produzir o efeito eleitoral desejado neste que é o grupo social mais numeroso, o presidente ficará acuado. E, acuado, ele mostra os dentes.

De acordo com dados do Ministério da Cidadania, 18,13 milhões de famílias (ou 50,13 milhões de pessoas) terão um reajuste de R$ 400 para R$ 600 como pagamento mínimo. Além delas, mais de 2 milhões de famílias que estavam na fila de espera, ou seja, não ganhando nada, também passarão a receber os R$ 600.

Há, neste momento, um compasso de espera para ver se a expectativa do novo Auxílio Brasil se materializa em melhora na qualidade de vida, o que pode se traduzir em transferência de votos para Bolsonaro. A expectativa é grande porque R$ 600 de hoje compram muito menos que no primeiro semestre de 2020, época do pagamento do auxílio emergencial do mesmo valor, por conta da galopante inflação.

A expectativa da população pode já estar se traduzindo em queda na avaliação negativa do governo: ela foide 53% para 39%, de janeiro a agosto, entre os beneficiários do Auxilio Brasil, de acordo com levantamento da pesquisa Genial/Quaest, divulgado nesta quarta (3).

Entre quem recebe o Auxílio Brasil, Lula foi de 62% para 52% e Bolsonaro, de 27% para 29% entre julho e agosto. Para efeito de comparação: entre quem não recebe o benefício, a intenção dos dois oscilou dentro da margem de erro.

Porém, a melhora na avaliação do governo junto às parcelas mais pobres não se traduziu ainda em uma alteração significativa nas intenções de voto dos dois candidatos mais bem colocados na corrida presidencial. Na pesquisa da Genial/Quaest, Lula marca 44% e Bolsonaro, 32%. Em junho, a situação estava em 46% a 30%.

Lula tem defendido que o povão pegue os R$ 600, mas vote nele mesmo assim, defendendo que a vida, na sua época, era melhor que agora e que ele trará esse tempo de volta.

Como já mostrei aqui, Lula e Bolsonaro compartilham um naco de 20% do eleitorado, atraídos pela lembrança de segurança material do governo do petista, mas também pelo discurso de comportamento e costumes do atual presidente. Se a economia está ruim, tendem a votar com o bolso. Se a economia melhora, votam com a ideologia.

Se o desembarque bolsonarista no vasto território da insegurança alimentar, do emprego precário e da renda em queda não gerar o impacto desejado, o próximo ataque se dará sobre a popularidade de Lula. O ex-presidente tem rejeição de 44%, enquanto o atual ostenta 55%. Dificilmente, alguém se elege com um índice maior que 50% com um adversário que provoca menos ojeriza.

Com isso, a campanha bolsonarista vai despejar fogo através das falanges digitais nas redes sociais e aplicativos de mensagens e da propaganda no rádio e TV para tentar desconstruir a imagem de Lula.

Daí, vale tudo: de relembrar que ele foi preso pela Lava Jato (mesmo que o STF tenha anulado a condenação) até chuva de mentiras. Se em 2018, inventaram a mamadeira de piroca, neste ano, com mais recursos, o céu é o limite.

A questão é que, tanto Lula quanto Bolsonaro, têm uma imagem pública consolidada. Como são escrutinados pela imprensa por anos, é difícil encontrar alguém que não saiba da trajetória de ambos até aqui. Ou seja, é uma tarefa difícil para o Gabinete do Ódio, mas não impossível porque criatividade aliada a disparos em massa e uma rede organicamente azeitada fazem milagres.

Se a rejeição a Lula não aumentar o suficiente e outros competidores não roubarem votos do petista, a eleição hipoteticamente pode ser decidida no primeiro turno, até porque haverá voto útil no centro e na centro-esquerda, mesmo que os seus candidatos digam que não.

O vislumbre de uma derrota pode acuar ainda mais o presidente, que teme ser preso após deixar o cargo por conta do que ele fez e deixou de fazer. E, acuado, ele vai para o ataque contra a democracia.

Ou seja, o tipo de impacto dos R$ 600 na sociedade será um indicador de como serão as micaretas golpistas de 7 de Setembro, que Jair vem organizando com afinco desde o ano passado. Quanto menos efeito eleitoral causar, mais o sequestro do bicentenário da independência vai ter cores golpistas.