Topo

Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com lema 'Lealdade de Verdade', campanha de Queiroz é mostrar que não é X-9

Santinho digital sincerão de Fabrício Queiroz - Reprodução
Santinho digital sincerão de Fabrício Queiroz Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

16/08/2022 18h23

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Ex-assessor para assuntos aleatórios da família Bolsonaro, o ex-policial Fabrício Queiroz busca uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro pelo PTB. Como comentou um colega jornalista, isso não é uma candidatura, mas uma volta à cena do crime.

Nos "santinhos" distribuídos em suas redes sociais, usa como lema "Lealdade de Verdade" - uma clara referência ao seu silêncio diante das denúncias sobre o desvio de recursos públicos através da apropriação ilegal de salários de servidores do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Alerj. Que ficou eternizado no imaginário político nacional como o escândalo das rachadinhas, do qual era operador.

"Que DEUS abençoe nossa caminhada! Hoje daremos o primeiro passo para essa VITORIOSA CAMINHADA. Debaixo das bençãos e proteção de Deus, estaremos percorrendo todo nosso estado nesses 45 dias. Seremos bem-sucedidos, eu creio!", afirmou nas redes sociais, nesta terça (16), início da campanha eleitoral.

Quem acha que a corrida de Queiroz é folclórica e não tem chances não entendeu nada, absolutamente nada, do que aconteceu no Brasil nos últimos cinco anos. E digo mais: Queiroz, que se tornou símbolo de maracutaia, trambicagem e lambança para uma parte do país é visto no bolsonarismo-raiz como um herói.

Recordar é viver: Na manifestação golpista realizada na orla de Copacabana, no dia 7 de setembro do ano passado, a recepção que ele teve de fãs de Jair Bolsonaro foi efusiva. O operador das rachadinhas foi tietado e tratado como estrela. Melhor, como um "pica do tamanho de um cometa" - para usar a icônica expressão por ele adotada para explicar o tamanho de seu medo em relação às investigações do Ministério Público sobre a corrupção.

Queiroz, que já ficou escondido na casa do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, em Atibaia (SP), e depois passou um tempo preso em meio ao processo das rachadinhas, está mais solto do que nunca. Como ele mesmo postou hoje: "Espalha pra geral que o QUEIROZ É ESTADUAL!!!".

Há uma parcela de 18% da população que acredita em absolutamente tudo o que Jair diz, segundo o Datafolha de julho. Esses fanáticos creem que há um complô contra seu "mito" e que Queiroz, seu amigo, é um trabalhador honesto e injustiçado.

Esse grupo põe fé quando Bolsonaro diz que acabou com a corrupção no Brasil e diga que garantiu transparência total - mesmo que ele, logo depois, ameace meter a porrada na boca de um jornalista que perguntou a razão de Queiroz ter depositado R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michelle. Hoje, ele diz que foi um empréstimo devolvido por Queiroz, sem dar explicações mais críveis.

Mas há uma parcela dos bolsonaristas radicais que sabe que Messias é mito, mas não é santo - e não se importa com isso. Para eles, não há problema algum se Bolsonaro tirar o seu cascalho. Pelo contrário, acham isso justo uma vez que ele estaria ajudando a livrar o Brasil do fantasma do comunismo. Alerta de spoiler: o Brasil nunca foi um país comunista, mas o delírio é livre.

A preocupação desse grupo específico com o combate à corrupção é uma fraude tão grande quanto as rachadinhas.

E não é só porque o Ministério da Saúde, que deveria se dedicar a combater a pandemia, e o Ministério da Educação, que precisaria construir o futuro do país, especializaram-se em ajudar políticos, militares, religiosos, parecendo um microcosmo da cidade de Sucupira, de "O Bem-Amado", de Dias Gomes.

Mas porque Bolsonaro foi acusado de ter usado familiares como servidores-fantasma de seu gabinete, recolhendo os salários, durante os anos em que foi deputado federal. Nos mesmos moldes do que fazia Queiroz. Sim, Jair é o patriarca das rachadinhas.

Há também o grupo que tira selfie com qualquer pessoa famosa para ganhar likes. Contudo, este post não vai discutir patologias.

Em novembro de 2020, Queiroz chegou a ser denunciado junto com o ex-chefe, o ex-deputado estadual e hoje senador, Flávio Bolsonaro, por lavagem de dinheiro, apropriação indébita, organização criminosa e peculato.

Mas, em maio deste ano, o Tribunal de Justiça do Rio rejeitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público contra Flávio após uma parte das provas apresentadas contra o parlamentar ter sido invalidada pelo STJ e o STF. Assim, o MP pediu a anulação da própria denúncia. Deve começar tudo de novo.

Ter o Queiroz fazendo selfies como um herói em um protesto de bolsonaristas que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional e criticavam a corrupção dos tempos do PT foi um resumo do ano de 2021. Ter o mesmo Queiroz candidato a deputado estadual com grandes chances de vitória é o resumo antecipado deste ano de 2022.