Hospitais de Gaza estão sem luz, na mira de tanques e sob bomba, diz médico

Bombas destruíram ambulâncias e feriram funcionários do hospital Al Awda, um dos últimos refúgios ainda abertos para palestinos diante dos bombardeios de Israel no norte da Faixa de Gaza. A unidade, que atende os moradores do campo de refugiados de Jabalia, que registrou quase 200 mortos e centenas de feridos em recentes ataques, está no escuro.
Em conversa com a coluna, o seu diretor, Ahmad Muhanna, diz que os mísseis que caíram no entorno do hospital, além de inviabilizar os veículos e machucar a equipe, também atingiram o Al Awda, quebrando janelas e causando outros danos de intensidade leve a moderada. Seis construções ao redor ficaram destruídas.
"Nós permanecemos trabalhando, mas temos enormes desafios para continuar o nosso trabalho e para prestar serviços para o nosso povo. Por exemplo, acabou o combustível para os geradores, zero. Estamos operando com luzes recarregáveis e pilhas", diz Muhanna.
Na última entrevista que eu havia feito com o diretor, ele pediu para transmitir um apelo à comunidade internacional a fim de garantir o fornecimento de combustível para abastecer os dois geradores do seu hospital. Naquele momento, sua voz era de apreensão. Desde que Israel cortou o fornecimento de eletricidade a Gaza e impôs um cerco, o Al Awda queimava rapidamente a reserva de 12 mil litros de combustível.
Os poucos caminhões com ajuda humanitária autorizados a entrarem pela fronteira com o Egito estão proibidos por Tel Aviv de levarem o produto. As Nações Unidas solicitaram que combustíveis fossem autorizados a entrar em Gaza. Em resposta, o Exército de Israel postou, no X/Twitter, para que isso fosse solicitado ao Hamas.
Com o esgotamento do combustível e o hospital às escuras, a voz de Muhanna não era mais de ansiedade e preocupação, mas resignação.
Diretor de hospital diz que hospital foi bombardeado. Vídeos nas redes sociais mostram o exato momento em que isso ocorreu (veja abaixo):
Hospitais cercados por tanques de Israel
Com a invasão terrestre, que sucedeu o cerco e os bombardeios, ele descreve um colapso do sistema de saúde.
"O hospital Al Shifa, o maior do território, o hospital Al Nasser, pediátrico, o hospital Rantisi, de oncologia, todos esses estão fora de serviço agora. E cercados por tanques israelenses", explica. Todos esses ficam na área da cidade de Gaza, a maior do território, foco principal da ação militar.
O Crescente Vermelho, versão da Cruz Vermelha para os países islâmicos, afirmou que os hospitais em Gaza estão sendo deliberadamente atingidos pelo Exército para forças os civis a deixarem a região. Israel rebate dizendo que não está atacando os hospitais, mas quer os civis fora. Muhanna aponta que não é possível mover feridos.
Um pouco mais ao Norte, o Al Awda não está cercado, mas sofre com os bombardeios e com a ausência de suprimentos hospitalares e remédios, inclusive para dor - o que torna os tratamentos dos feridos um suplício. E, claro, energia, que impede o funcionamento de respiradores, máquinas de raios-X e incubadoras de prematuros.
De acordo com Muhanna, a maioria das crianças sobreviventes dos bombardeios chegam ao hospital com queimaduras, cortes na cabeça e ossos quebrados nas extremidades. Tudo em um mesmo paciente. O motivo é que, com as bombas, as paredes desabam sobre elas. Em um ato reflexo, colocam as mãos na cabeça par se protegerem.
Em Gaza, o saldo da retaliação israelense é de 11.078, números do Ministério de Saúde local, controlado pelo Hamas, após 1.200 pessoas serem mortas em Israel (o número de 1.400 foi revisado para baixo) pelos ataques terroristas do grupo no dia 7 de outubro.
Apesar da situação, Muhanna, que já recebeu ordens de evacuação do Exército de Israel, promete ficar. "Nós estamos aqui e vamos continuar aqui."