Leonardo Sakamoto

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Opinião

Nunes pede cabeça da Enel para tirar o corpo fora de olho na reeleição

Criticado pela demora em atender pedidos de podas de árvores que ameaçavam a rede elétrica de São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse, nesta quinta (16), que solicitou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que cancele o contrato de concessão da Enel. Com isso, tenta tirar o corpo fora em um problema no qual é corresponsável.

Mais de dois milhões de paulistas ficaram 24 horas sem luz depois que uma tempestade atingiu a capital e o interior no dia 3 de novembro. Outras dezenas de milhares seguem no escuro hoje. Apesar do jogo público de empurra, tanto a Enel quanto a Prefeitura de São Paulo são responsáveis pelas podas de árvores em São Paulo e, portanto, pelo problema.

Ventos de mais de 80 km/h podem arrancar plantas saudáveis, mas em muitos pontos da capital paulista espécimes carcomidos por cupins ou com raízes podres caíram com ventos bem mais fracos que isso.

Na busca por aumentar o seu faturamento, a Enel não fez o investimento necessário em manutenção preventiva da rede elétrica em São Paulo e reduziu a sua força de trabalho direta e indireta, o que faz falta em momentos de crise. Mas a Prefeitura também não fez sua lição de casa quanto à remoção de árvores condenadas ou em situação de risco.

Sentindo que estava sendo arrastado para a lama junto com a Enel, Nunes tratou de pedir a sua cabeça. Listou problemas que a capital vem tendo com a empresa, mencionando, inclusive, Unidades Básica de Saúde sem energia. A prefeitura chancelou o chefe em nota: "A situação é preocupante, uma vez que a época de chuvas de verão ainda está por vir, e foi solicitado à agência que cancelasse o contrato com a Enel".

Mas se o prefeito encarava o último apagão como a gota d'água de uma longa capivara da Enel, por que esperou que a empresa fosse emparedada pela CPI da Enel na Assembleia Legislativa de São Paulo para divulgar essa posição?

A resposta é que, agora, as pesquisas qualitativas devem ter começado a apontar que isso estava pesando contra a sua campanha à reeleição.

Como já disse aqui logo depois do temporal, o paulistano da periferia que perdeu tudo o que tinha em seu pequeno comércio após dias sem energia e que não será ressarcido pelos alimentos estragados concorda que a concessão da Enel não seja renovada. E o prefeito está de olho na imagem que venderá assumindo uma posição que vem sendo defendida por seu adversário direto, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP).

Contudo, se esse mesmo paulistano for um pouco mais a fundo, verá que a gestão Nunes não consegue nem fazer um chamamento decente de prestadores para esse serviço. Por recomendação do Tribunal de Contas do Município (TCM), que apontou inconsistências no edital, a Prefeitura suspendeu uma licitação de quase R$ 1,1 bilhão para podas e conservação de área verde para o próximo ano.

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Por fim, não adianta tirar a Enel e entregar para outra se as regras frouxas que ela tiver que cumprir e a fiscalização quase inexistente continuarem na mesma. Por conta do serviço de má qualidade, a questão da reestatização já é citada como possível saída, como vem acontecendo com empresas de similares em outros lugares do mundo.

Enquanto isso, o governo Tarcísio de Freitas está tentando vender a empresa paulista de saneamento básico. E Nunes abraçou essa ideia de olho no apoio eleitoral do governador. Uma cláusula permite à Prefeitura de São Paulo romper o contrato caso a Sabesp seja privatizada, mas o prefeito quer prorrogar o vínculo, tão logo ela seja vendida, independente de quem assuma.

Prioridade aqui não é luz, não é água. É eleição.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL