Enel, políticos e árvores podres geram risco de um novo apocalipse em SP

São Paulo pode viver, neste final de semana, um cenário parecido com o de 3 de novembro, quando ventos fortes encontraram a incompetência da Enel e do poder público e deixaram milhões de paulistas sem luz - alguns dos quais, aliás, estão no escuro ainda hoje.
O Instituto Nacional de Meteorologia emitiu alertas de tempestades que devem atingir diversas cidades, inclusive São Paulo. Estão previstos, novamente, ventos de até 100 km/h. Rajadas com mais de 80 km/h podem derrubar árvores saudáveis, mas, na capital paulista, as que estão comidas por cupins e com raízes podres, tombam por bem menos que isso.
Por exemplo, naquela fatídica sexta (3), tivemos o registro de 103,7 km/h no aeroporto de Congonhas, mas de 48,1 km/h na Vila Mariana — onde muitas árvores caíram interrompendo a rede elétrica. Os dados são do Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura de São Paulo.
Eventos climáticos extremos se tornaram mais frequentes devido às mudanças climáticas e ao aquecimento global. Ou, para ser mais justo, como consequência de os países ricos terem lançado tanto carbono na atmosfera que, agora, o termostato do planeta foi ajustado para "Gratinar os Idiotas Lentamente".
Mas isso não justifica o despreparo de cidades com recursos como São Paulo.
Na busca por aumentar o seu faturamento, a Enel não fez o investimento necessário em manutenção preventiva da rede elétrica e reduziu a sua força de trabalho direta e indireta, o que fez falta em momentos de crise. E a Prefeitura também não fez sua lição de casa quanto à remoção e poda de árvores condenadas ou em situação de risco.
Com medo do impacto disso sobre sua tentativa de reeleição, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse, nesta quinta (16), que solicitou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que cancele o contrato de concessão da Enel. Tenta assim tirar o corpo fora em um problema no qual é corresponsável.
Apesar de a empresa ter aumentado o número de empregados a seu serviço após ser emparedada por uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa, não houve tempo hábil para recuperar o tempo perdido na poda de árvores. Vamos ver se a Enel vai novamente culpar a forças da natureza pelas cruzetas podres de poste que não trocou.
Muitos paulistanos da periferia que perderam o pouco que tinham em seus pequenos estabelecimentos comerciais após dias sem energia e que não serão ressarcidos pelos alimentos estragados serão, novamente, as principais vítimas.
A palavra apocalipse não significa fim do mundo, mas "revelação". A repetição como farsa, neste final de semana, da tragédia ambiental em São Paulo do último dia 3 não deixa de ser esclarecedor para entender como funciona a lógica do capitalismo que opera no Brasil. E como a política, que sistematicamente o bajula, é rápida em pular do barco para sobreviver.