Leonardo Sakamoto

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Opinião

Congresso aprova lei que ajuda a bombar cheias no Sul e secas na Amazônia  

Na próxima vez que você ouvir deputados e senadores lamentando mortos devido às cheias no Rio Grande do Sul e aos deslizamentos de terra no Rio e em Santa Catarina ou dizendo que sentem muito pelas secas na Amazônia e os incêndios no interior de São Paulo, lembrem-se que o chororô é mentira. Se fosse sincero, não teriam aprovado, nesta quinta (12), um projeto de lei que mantém benefícios a termelétricas a carvão e gás (que agravam as mudanças climáticas) — pagos, aliás, por nós consumidores na conta de luz.

Ou seja, além de rifarem o futuro, também nos obrigam a participar, financiando a ação irresponsável. É tipo a família que recebe, de uma ditadura, a conta pela bala com a qual ela executou seu parente.

Ah, mas evitar que um punhado de usinas lance carbono na atmosfera não vai impedir eventos climáticos extremos no Brasil ou no exterior. Individualmente, não. Mas o sistemático negacionismo de políticos que afirmam acreditar no aquecimento global, mas defendem que ainda dá tempo de fazer as mudanças necessárias em nosso modelo de desenvolvimento sem reduzir os lucros da economia tradicional, faz com que ações como essa não sejam exceções, mas a regra.

O mais irônico é que isso foi inserido como "jabuti" (temas que não têm nada a ver com a proposta original) no PL que trata do marco regulatório das usinas eólicas em alto-mar e de respaldo à produção de hidrogênio verde, aumentando o prazo de apoio à geração de usinas a carvão de 2028 a 2050 e obrigando a contratação de usinas a gás fóssil com exigência de funcionarem na maior parte do ano.

Nota do Observatório do Clima e da Coalizão Energia Limpa aponta que "o impacto climático será expressivo, com a geração de 274,4 milhões de toneladas de CO2 ao longo das próximas duas décadas e meia, o equivalente às emissões anuais do setor de transportes e da produção de combustíveis fósseis no Brasil".

Segundo as organizações, isso praticamente anula os esforços de combate ao desmatamento na Amazônia entre 2022 e 2023, que reduziram as emissões brasileiras em 386,8 milhões de toneladas de CO2.

Ou seja, parte do país e do mundo se desdobrando para tentar reduzir os impactos das mudanças climáticas, e o Congresso Nacional aperta a tecla foda-se. O que não deixa de ser uma aula de como operam os lobbies de setores e empresas poderosos nos corredores da Câmara e do Senado e de como funcionam os acordos políticos — você aprova o meu e eu aprovo o seu.

Resta saber se Lula vai vetar a aberração da manutenção do apoio às térmicas a carvão e a contratação de térmicas a gás ou também faz parte do acordão.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL