Leonardo Sakamoto

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Opinião

Após anúncio de cessar-fogo, mais de 30 crianças foram mortas em Gaza

O cessar-fogo entre o governo Benjamin Netanyahu e o Hamas passa a valer em Gaza às 3h30 da manhã deste domingo (19), horário de Brasília. Mas a contagem de corpos continuou. Pelo menos 33 crianças foram mortas em ataques israelenses desde que o acordo para o fim das hostilidades foi anunciado na última quarta.

No total, 122 palestinos foram mortos, a maioria no norte do território, a região mais destruída.

Em 7 de outubro de 2023, um ataque terrorista do Hamas matou 1.139 pessoas em Israel, segundo dados do governo Netanyahu. Além de mais de 200 foram feitas reféns, que começarão a ser trocados por prisioneiros palestinos no cessar-fogo.

A reação do governo de Israel (ressalte-se que não estou falando do povo israelense, mas de seus governantes) foi no sentido de um genocídio, matando 46,7 mil pessoas (dos quais, mais de 18 mil crianças) e ferindo outras 110,7 mil desde então, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza controlado pelo Hamas. É como se uma a cada 50 pessoas do território tivesse sido morta.

Devido às evidências de crimes de guerra, o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o ex-ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, e um alto funcionário do Hamas em novembro.

A morte de crianças inocentes, por bala, por fome ou por doença, é uma das consequências mais tristes da invasão israelense. Se você está pensando "dane-se, filho de terrorista merece morrer", então saiba que você também é um risco à vida em sociedade. Um governo que não se importa diante de quem vive e quem morre, desde que atinja seu objetivo, não faz políticas, mas puro suco de terrorismo.

E isso não é de agora. Por exemplo, em maio passado, o governo Netanyahu lançou um ataque contra o sul de Gaza sob a justificativa de atingir o Hamas, mas causou um incêndio em um campo de refugiados, matando dezenas, entre mulheres e crianças. Tratou, dessa forma, não apenas palestinos como lixo, mas também a Corte Internacional de Justiça, que havia mandado interromper os bombardeios à cidade de Rafah.

Corpos carbonizados, membros dilacerados, crianças queimadas urrando de dor esperando para morrer. Tudo isso, ironicamente, no local para onde Israel havia empurrado milhões de palestinos de toda Gaza, alegando que estariam salvos de ataques e bombardeios no Sul.

Imagine um caça Gripen, do Brasil, bombardeando a Rocinha em "alvos cirurgicamente pré-determinados pela inteligência" (sic) para acertar apenas criminosos. Qual a chance disso, desculpem pelo meu francês, dar merda? Vale o risco? Para governos extremistas e seus apoiadores, sim, apesar de quase a totalidade dos moradores da Rocinha não ter nada a ver com o crime.

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Pois, foi o que aconteceu em Gaza. Em escala de tentativa de genocídio.

O governo de Tel Aviv diz que o Hamas usa civis como escudos - o que até um texugo com problemas de cognição sabe há tempos. O que o texugo não entende é porque, sabendo das táticas desses criminosos, as Forças de Defesa de Israel lançaram bombardeios mesmo assim mostrando que preocupam-se com a vida dos locais tanto quanto o Hamas.

No afã de se manter longe da prisão, que é o local para onde ele pode ir se deixar o governo devido às denúncias de corrupção, os ataques à Suprema Corte e sua incompetência em prever os ataques do Hamas, Netanyahu produziu cenas de horror não se importando com a opinião pública internacional.

Milhares de israelenses, principalmente famílias de reféns, protestaram por meses contra ele por estender o conflito e não conseguir traze-los de volta. Foram reprimidos com violência na "maior democracia do Oriente Médio". Ele, agora, vai tentar se segurar no poder, mesmo com a defecção de membros ultraconservadores — que querem a continuidade da guerra e a implementação de assentamentos judeus em Gaza no lugar dos palestinos.

O cessar-fogo é mais do que bem-vindo e necessário. Além da troca de reféns por prisioneiros e do fim de ataques de parte a parte, ele também prevê a abertura de corredores humanitários e a retirada das Forças de Defesa de Israel de determinadas áreas. Mas isso não significa o fim do conflito. Qualquer falha de um das partes colocará tudo a perder.

E pela quantidade de crianças mortas após o acordo ser anunciado, os ultraconservadores do governo Netanyahu torcem para que isso aconteça.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL