Leonardo Sakamoto

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Reportagem

Com cessar-fogo em Gaza, famílias voltam para casa com ossos de parentes

"Há muita gente voltando para casa no norte de Gaza com o cessar-fogo. Estão trazendo feridos e mortos. Mas também ossos porque, após dois meses, é o que resta dos corpos dos parentes que morreram."

A declaração foi dada à coluna por Mohammed Salha, diretor do hospital Al-Awda do campo de refugiados de Jabalia, norte da Faixa de Gaza, nesta segunda (20). Com o acordo entre o governo Benjamin Netanyahu e o Hamas, muitos tentam voltar para o que sobrou da área mais destruída pelos bombardeios israelenses. Trazem os vivos, mas também os mortos, por arma, fome ou doença.

Essa unidade de saúde foi a única a continuar funcionando em meio aos cercos do Exército, mesmo com a falta de recursos humanos, medicamentos e energia, além de ameaças, mortes e prisões de membros da equipe, nos 470 dias de conflito. O hospital também manteve operando sua maternidade, dando à luz bebês durante os bombardeios.

"Neste momento, não há bombas caindo nem tanques em volta do hospital. Mas temos que lidar com um imenso número de feridos, afirma o médico.

"E as estradas ainda estão bloqueadas. Estamos agindo, em cooperação com organizações internacionais para trazer tratores a fim de reabri-las", afirma Salha sobre a dificuldade dos feridos de chegarem ao hospital.

"E, além das estradas, também precisamos de ambulâncias, porque elas se foram", lamenta, enquanto dá um suspiro diante da situação de calamidade.

Ao longo do conflito, ambulâncias foram alvo do exército, que as acusava de transportarem membros do Hamas. O governo Netanyahu também acusa os hospitais de esconderem centros de controle do grupo extremista.

No começo do mês, as Forças de Defesa de Israel enviaram um ultimato ao Al-Awda, que provocou pânico entre pacientes. "Se vocês não evacuarem o hospital, eles vão bombardeá-lo na cabeça de quem estiver dentro", segundo relato de Mohammed Salha.

A coluna havia conversado com ele logo após o aviso. "Na última noite, eles bombardearam. Dois de nossos funcionários estão feridos e destruíram o reservatório de combustível, perdemos o suprimento que tínhamos recebido do hospital indonésio quatro dias antes. Agora, estamos sem combustível e sem água dentro do hospital e eles estão bombardeando muito", disse.

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Os ataques de Israel a instalações médicas em Gaza fizeram com que o Conselho de Segurança das Nações Unidas organizasse uma reunião de emergência para pedir proteção a esses locais no dia 3 de janeiro. A situação precária do Al-Awda foi uma das relatadas.

De acordo com os funcionários do hospital, muitas pessoas preferiram morrer no norte e evacuar a região. Porque acreditavam que Israel estava mentindo a elas, dizendo que havia áreas seguras de caráter humanitário enquanto chegavam notícias de bombardeios em campos de refugiados no Sul.

Em 7 de outubro de 2023, o ataque terrorista do Hamas matou 1.139 pessoas em Israel, segundo dados do governo de Israel. Além de mais de 200 foram feitas reféns, que começaram a ser trocados por prisioneiros palestinos no cessar-fogo. A reação do governo de Israel foi a morte de mais de 47 mil pessoas (dos quais, mais de 18 mil crianças) e ferindo outras 111 mil desde então, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza controlado pelo Hamas. É como se uma a cada 50 pessoas do território tivesse sido morta.

Salha pede ajuda à comunidade internacional para que o hospital continue funcionando, dado que a quantidade de feridos que estavam na região está se somando àquela que, agora, vêm do Sul. Para ele, o cessar-fogo não é o fim de um drama, mas apenas mais um capítulo.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.