Leonardo Sakamoto

Leonardo Sakamoto

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Café da manhã fica mais caro, e custo político cai na conta de Lula

Fevereiro teve a maior taxa de inflação (1,31%) desde março de 2022 (1,62%), puxada pela energia elétrica e pela educação. Mas o ovo (15,39%), o mamão (11,7%), o café (10,77%) e até o pão francês (0,82%) deixaram o item alimentação em domicílio mais caro. E quando o café da manhã dói mais no bolso dos pobres, o custo político e eleitoral cai na conta do governo.

A alta da energia se deve ao fim de um bônus pago da hidrelétrica de Itaipu, portanto pontual. Da mesma forma, a alta na educação veio com o reajuste nas mensalidades escolares, que ocorre no início do ano. Mas a alimentação, não. Comer em casa ficou 0,79% mais caro no mês passado, menos que o 1,07% de janeiro, claro, mas ainda assim foi mais um mês de elevação em uma longa sequência de meses.

O governo vive uma situação complicada. Mesmo com aumento do PIB de 3,4%, após ter crescido 3,2% em 2023, menor desemprego da série histórica, aumento da renda média dos trabalhadores e redução na desigualdade, Lula ostenta baixa popularidade em muito pelo preço dos alimentos. Não precisa apenas que ele pare de subir, mas que despenque do alto patamar em que se encontra.

E a inflação dos alimentos foi maior que o IPCA geral no ano passado. Ou seja, os mais pobres sentiram no bolso e na qualidade de vida mais do que a média da população.

Eventos climáticos extremos afetaram a produção nos últimos dois anos no Brasil, encarecendo a comida. O governo Lula vem fazendo questão de destacar isso, mas, como já disse aqui, do ponto de vista dos consumidores, quando o café sobe não importa se a culpa foi do clima, de Satanás ou do Godzilla, a responsabilidade final será do governo federal. Aceita-se sazonalidade, o que não se admite é a comida com preço que inexoravelmente sobe.

O preço depende também do mercado internacional, uma demanda grande no mundo por café, milho e carne por exemplo. Daí, muitos empresários preferem exportar do que vender aqui. O que também não pode servir de desculpa.

Aumento de estoques reguladores, incentivo à produção de determinadas culturas em outras regiões, dinheiro para o pequeno produtor rural (responsável por levar alimentos frescos às mesas dos brasileiros), desoneração de impostos sobre alimentos e, por mais que empresários chiem, redução de impostos de importação (como o governo anunciou isso para café, carnes, milho, sardinha, azeite, massas e biscoitos e óleo de girassol) são medidas importantes. Isso sem contar a queda no dólar, que influencia no preço do diesel, usado nos caminhões que transportam tudo o que consumimos. Adotar medidas considerando que o clima mudou também.

Como já disse aqui uma linguiça de vezes, a reeleição de Lula ou de um de seus indicados está diretamente relacionada a como estará o custo de vida em outubro de 2026. O que depende, principalmente, da inflação dos alimentos. Ao mesmo tempo, a permanência ou não de Bolsonaro na cadeia por golpe de Estado, considerando que há grandes chances de ele ser condenado) também dependerá do preço da comida — se ela estiver alta, é mais fácil eleger alguém da oposição que fará gestão para perdoar ou anistiar o ex-presidente.

Em suma, o futuro político do Brasil passa pela picanha e a cerveja, pelo arroz e o feijão, mas também pelo seu café da manhã.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL