Bolsonaro diz que vida acaba com prisão aos 70, mas Lula foi preso aos 72
Dramático, Bolsonaro afirmou em entrevista à Marianna Holanda, da Folha de S.Paulo, que uma prisão pela tentativa de golpe de Estado representaria o fim da sua vida. E justifica: "já estou com 70 anos". A declaração mostra não apenas a vitimização do ex-presidente diante de uma condenação no STF, mas também que ele tem pouca fé. Até porque seu adversário foi preso aos 72 e, depois, virou presidente pela terceira vez.
Lula foi recolhido em 7 de abril de 2018 à carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, para cumprir um pena de 12 anos e um mês em meio à operação Lava Jato. Meses depois foi condenado novamente a mais 12 anos e 11 meses. No dia em que se entregou, afirmou: "Eu vou lá na barba deles, para saberem que eu não tenho medo, para saberem que eu não vou correr e para saberem que eu vou provar a minha inocência".
Naquele momento, o STF ajudou a prender o petista ao rejeitar o pedido de habeas corpus que impediria que começasse a cumprir a pena antes de esgotados todos os recursos.
Ficou por 580 dias no xilindró. Posteriormente, foi solto e o Supremo Tribunal Federal anulou a decisão, declarando que o então juiz Sergio Moro - flagrado combinando o futuro do petista com a acusação pelo Telegram no que ficou conhecido como Vaza Jato - foi parcial no julgamento. Candidatou-se em 2022 e ganhou de Bolsonaro.
O ex-presidente vem tentando seguir os passos de Lula. Defende que o julgamento é parcial, apesar de não ter elementos para provar isso além da sua própria narrativa, e estuda manter-se como candidato da direita até os 45 do segundo tempo, quando terá o registro indeferido por estar inelegível. Lula fez isso com Fernando Haddad, Bolsonaro pode fazer com os filhos o Eduardo e Flávio Bolsonaro ou com o governador Tarcísio de Freitas (se este confiar 100% nas palavras do capitão).
Mas se acredita tanto na estratégia de dar a volta por cima, Bolsonaro deveria apostar mais no seu próprio discurso. Ao dizer que a prisão seria "o fim da minha vida", ele traz uma sinceridade que não cabe com quem afirma que repetiria a "jornada do herói", descendo ao inferno e voltando em glória, e se manteria como uma pedra no sapato dentro da cadeia. Cabe no de um coitadinho.
Opinião
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