Leonardo Sakamoto

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Opinião

O que comem, onde vivem, como se reproduzem os 20% contrários a taxar rico

A nova pesquisa Datafolha é bastante didática sobre o Brasil e a percepção a respeito de a quem as instituições servem. Questionados se são a favor da proposta do governo Lula de taxar quem ganha mais de R$ 50 mil por mês e hoje paga menos de 10% de Imposto de Renda, 76% disseram que sim e 20%, não.

Ou seja, a maioria pode não saber o que significa justiça tributária ou progressividade de impostos, mas entende que é errado alguém que ganha três salários mínimo pagar proporcionalmente mais imposto do que um felizardo que recebe 33 salários por mês.

Ao mesmo tempo, há uma compreensão de como funciona o Congresso Nacional, uma vez que 49% apontam que deputados e senadores não vão aprovar a medida, frente a 47% que vão abraçá-la. Um empate técnico, considerando a margem de erro de dois pontos, mas 49% é um tombo diante de 46%.

Ou seja, sabem que o Evangelho de Mateus é aplicável ao IRPF, pois é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um parlamentar super-rico aprovar a taxação de sua classe social. E o que mais temos entre deputados e senadores são pessoas que são desse grupo ou que o representam. Uma coisa é aprovar uma medida que pode levar votos e ajudar na reeleição de congressistas, como a isenção dos R$ 5.000. A outra é cortar na própria carne.

Considerando que o Brasil não tem 20% de sua população (42,5 milhões) que seriam atingidos pelo projeto, que deve taxar apenas 141,4 mil almas que ganham mais de R$ 50 mil mensais, então tem gente defendendo a grana do outro.

Projetam-se nos mais ricos e, sonhando um dia chegar lá, desejando que a condição deles seja mantida para, quem sabe, também poderem dela usufruir. Não se importam com as consequências negativas da desigualdade na estrutura social, contanto que sua chance de um em um milhão de fazer parte do topo da pirâmide seja mantida.

Caem na falácia de que, ao taxar ricos acionistas de empresas, o país abre espaço para taxar empreendedores. Dizem que ao serem menos taxados, os ricos abrem mais empregos, mesmo que o destino de muito dividendo seja acúmulo e luxo. Compram a ideia de um Estado mínimo e, ao mesmo tempo, demandam melhor educação, saúde, segurança, opções de cultura e lazer e transporte públicos e gratuitos.

Sim, além dos congressistas, os super-ricos e sua condição privilegiada são defendidos com unhas e dentes por membros da classe trabalhadora que não se veem como tais e que vão às últimas consequências para defenderem os privilégios dos bilionários e multimilionários. Sem o apoio deles, a vida do andar de cima não seria tão fácil quanto é hoje.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL