Extrema direita agora bajula Francisco porque papa morto não retruca
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Francisco fez uma clara opção pelos mais pobres em seu papado, e isso revoltou muita gente que acredita que doar as migalhas que sobram é cristianismo, mas repartir o pão é comunismo. Muitos políticos de extrema direita torceram o nariz para ele e o xingaram, dos Estados Unidos à Argentina, passando pelo Brasil. Agora, morto, bajulam-no.
Avisam que vão ao enterro. Não é porque um papa morto vira santo, mas porque não pode retrucar.
O papa Francisco não vai lembrar ao mundo que essas pessoas apoiaram a guerra em Gaza ou na Ucrânia, maltrataram migrantes, fomentaram as mudanças climáticas, incitaram violência contra povos tradicionais ou a população LGBT+, promoveram a fome e defenderam o elitismo da igreja.
Além disso, não convém bater em um papa que acaba de falecer, ainda mais um que era carismático. Pelo contrário, como essa turma (pelo menos a maioria dela) não é burra, vão todos beijar a mão de Francisco em seu funeral para tentar tirar uma casquinha midiática.
São quase 1,5 bilhão de católicos e outros tantos cristãos que viam em Jorge Mario Bergoglio uma figura que empunhava os valores do evangelho. É conveniente, portanto, aparecer bem na foto. Isso sem contar que aparecer ao lado de candidatos ultraconservadores ao papado pode ajudar estes cardeais em sua campanha eleitoral.
Sim, campanha. Não há nada mais político, cheio de intrigas, conchavos e negociações, que um conclave papal.
E, neste momento, há uma disputa pelo futuro da igreja: continuar uma abertura puxada por Francisco ou voltar-se aos dogmas, não raro excludentes.
Pelo menos, o ex-presidente Jair Bolsonaro não fingiu proximidade. Na primeira manifestação após a morte, não citou o nome de Francisco, nem lamentou seu falecimento, tratando do papado e não do papa. Depois, em entrevista ao SBT, ele disse: "Lamento a morte, como lamento a morte de qualquer pessoa pelo Brasil, qualquer pessoa, não, né?". Se estivesse no poder, contudo, seria empurrado para uma viagem ao Vaticano a fim de tirar uma selfie para postar nas redes.