Palco de morte, linha de metrô privatizada é 'irmã' do fiasco 9-Esmeralda
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Lourivaldo Nepomuceno morreu após ter ficado preso entre duas portas da estação Campo Limpo da linha 5-Lilás do metrô e sido arrastado pelo trem operado pela ViaMobilidade nesta terça (6). Sim, a mesma da linha 9-Esmeralda, uma das maiores dores de cabeça dos paulistanos que precisam de transporte público.
Segundo a empresa, as portas possuem um sensor de obstrução para impedir que o trem parta com as portas abertas. Mas não havia nada que impedisse a composição de partir se alguém ficasse preso entre a porta do trem e a da plataforma — que é transparente e separa os passageiros do vão dos trilhos.
A ViaMobilidade estava sempre nas manchetes devido aos problemas recorrentes em duas linhas de trens metropolitanos administradas por ela, as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda. Um levantamento dos colegas da TV Globo e do G1 apontou que as duas apresentaram quase o dobro de falhas das registradas em quatro linhas da CPTM (7-Rubi, 10-Turquesa, 11-Coral e 12-Safira) nos últimos três anos.
As quatro somam 102, as duas 200 — das quais, 133 só na Esmeralda.
Isso considera apenas o que é responsabilidade direta da empresa, desconsiderando furto de cabos e problemas de terceiros.
Relatos de quebras, descarrilamentos e trombadas foram frequentes, principalmente na 9-Esmeralda. Sua operação foi uma fonte de dor cabeça aos paulistanos desde que foi privatizada, em janeiro de 2022, uma roleta russa para quem precisa dela diariamente. Às vezes, funciona, às vezes, você vai ficar em uma fila gigantesca para pegar um ônibus da operação Paese e chegar atrasado no trabalho, com desconto no ponto e tudo.
Em outubro de 2023, durante a greve contra a privatização do Metro, da CPTM e da Sabesp, o governador Tarcísio de Freitas chegou a exaltar o serviço privatizado sobre trilhos, que continuou funcionando quando os funcionários públicos cruzaram os braços. Porém, logo depois, a linha 9 parou devido a uma falha elétrica. E, mesmo quando a greve de 24 horas já havia acabado, ela seguiu com longas filas, atrasos, ranger de dentes.
A empresa afirma que está melhorando o serviço ao consumidor. Por enquanto, as reclamações são em muito, muito maior número que os elogios.
Para os usuários, não importa se o pau ocorreu por falta de manutenção e de investimento, sobrecarga, vandalismo, sabotagem ou pelo ET Bilú ter descido aos trilhos em busca de conhecimento. Eles querem que a concessionária esteja preparada para resolver problemas rapidamente e garantir um ambiente seguro.
Não sou contra privatizações por princípio, desde que elas tragam melhorias no serviço, redução no preço final ao consumidor e respeito aos trabalhadores da empresa em questão.
Mas se os bons exemplos de privatização são alardeados aos quatro ventos, os problemáticos são relativizados quando o poder público quer leiloar alguma coisa. Mais investimento e menos desculpas, inclusive para garantir menos lotação e a certeza de que todos chegarão bem em casa. Se tivesse chegado em casa, Lourival celebraria o aniversário no próximo domingo.